“Para nos afastarmos, colocamos o kayak na água e não há problema”

Devido à pandemia do novo coronavírus, o governo japonês e o Comite Olímpico Internacional anunciaram na terça-feira o adiamento por um ano dos Jogos de Tóquio. Até ao momento, Portugal tem 33 atletas apurados para a maior prova desportiva do mundo. Um deles é o minhoto Emanuel Silva.
Com uma medalha de prata conquistada em Londres 2012, ao lado de Fernando Pimenta, o canoísta bracarense vai participar pela quinta vez no evento, neste caso na prova de K4 500 metros. Em entrevista à RUM, o atleta do Sporting refere que o adiamento foi “a decisão mais sensata” e que, por isso, a sua reacção foi “positiva”.
“Quando se põe em causa vidas humanas, temos que ser muito racionais. Os Jogos Olímpicos são muito importantes, só existem de quatro em quatro anos, mas com o momento que o Mundo está a atravessar era impensável realizar na data que estava prevista [24 de Julho a 9 de Agosto]”, mostra o seu ponto de vista.
A prova foi adiada quatro meses antes do seu início. Emanuel Silva considera que a equipa encontrava-se numa “forma muito aceitável” e que o barco estava “a andar muito bem”. Não podendo continuar “a treinar no mesmo ritmo”, até porque agora falta mais de um ano para os Jogos Olímpicos, o atleta minhoto olha para esta contrariedade como “mais um desafio”. “O ser humano tem que se adaptar, ter novos estímulos”.
O canoísta minhoto afirma que o desporto que pratica tem normalmente “a desvantagem de ser uma modalidade outdoor”, em que se sente “muito frio no Inverno e muito calor no Verão”. “Neste caso somos verdadeiros sortudos. A nossa modalidade é praticada em cima da água. Para nos afastarmos de toda a gente e treinarmos, colocamos o kayak na água e não há problema nenhum”, explica, comparando com os desportos indoor, dando o exemplo da natação em que isso não é possível.
Para “não perder a forma física”, Emanuel Silva está em quarentena voluntária há cerca de duas semanas no Gerês, ao lado da família, onde tem a possibilidade de treinar nas águas do Rio Caldo, que fica “muito perto de casa”.
Horas de treino diminuem para metade
Emanuel Silva está apurado para Tóquio na categoria de K4 500 metros, ao lado de João Ribeiro, Messias Baptista e David Varela. À imagem do atleta minhoto, a restante equipa encontra-se também no Gerês.
Apesar de estarem todos na mesma zona, o canoísta do Sporting explica que as normas de segurança não são colocadas em causa. “Na canoagem não temos um contacto físico muito directo. O treinador vai em cima do barco a motor e cada atleta está no seu barco individual. No barco individual não existe qualquer tipo de contacto”, descreve o procedimento. Com o adiamento dos Jogos Olimpicos, Emanuel Silva acrescenta que, tão cedo, “não há a ‘obrigação’ de treinar na embarcação de equipa, no K4”.
Além disso, a intensidade da preparação diminuiu consideravelmente. Antes, o atleta minhoto e os colegas treinavam 22 ou 23 horas por semana e, desde o anúncio de que a competição só ia decorrer no ano seguinte, “a carga passou para metade”.
Aos 34 anos e a caminho de mais uma etapa olímpica, Emanuel Silva ainda não decidiu se Tóquio 2021 será a última prova da carreira. “Não pensei sobre isso. Só quando terminar a prova é que vou analisar e falar com a minha família, comigo próprio e com quem me acompanha para ver se dá para continuar ou se a carreira fica por aqui”.
