Pandemia deve ser aproveitada para “reflectir e conservar” o Bom Jesus

Reflectir, redescobrir e conservar. São estas as principais ideias que resultaram da webinar “Bom Jesus Património Mundial: Onde estamos e para onde vamos?”, promovida pela Confraria do Bom Jesus, no dia em que se assinalou o 1.º aniversário da inscrição do Bom Jesus do Monte na Lista do Património Mundial da UNESCO.
Entre as principais reflexões, surge o alerta de Teresa Andresen, coordenadora científica da candidatura do Bom Jesus. “Está gente a mais a ir por estas escadas acima, há um excesso de utilização do Bom Jesus”, afirmou. Aproveitando o impacto provocado pela pandemia, que afastou os turistas, para a coordenadora esta “é a oportunidade de reflectir e de ver como é que o Bom Jesus reage a esta carga menor”. Teresa Andresen esclareceu ainda que os turistas são bem-vindos, “já que contribuem para a multiculturalidade, que é fundamental”, mas, defende, “o Bom Jesus sendo inclusivo deve estar atento, porque tem que se deixar este legado para as gerações futuras”.
A ideia foi corroborada pelo arquitecto da Direcção Geral do Património Cultural, Manuel Lacerda, para quem “o impacto do Turismo de massas tem que ser reconsiderado”. “Nos grandes monumentos, nas grandes cidades Património Mundial, esse impacto estava a ser gravoso. Temos a possibilidade de reflectir o que poderá ser, a breve prazo, um Bom Jesus com não tanto turismo”, acrescentou.
Na conversa participou também o embaixador e presidente da Comissão Nacional da UNESCO, José Moraes Cabral, que alertou para a necessidade de utilizar o património “para estudar um modelo que preserve a dimensão económica mas também a da conservação”. “Devemos aproveitar esta ocasião para redescobrirmos o nosso património, antes de mais pelos portugueses”, disse ainda.
Alkiviadis Prepis, perito do Icomos, salientou a necessidade de uma relação mais viva entre as pessoas e os locais e a de explicar às novas gerações que os valores do passado são os do futuro. Para o professor “esta é a oportunidade de desenvolver o parque do Bom Jesus e torná-lo mais atractivo”.
Que desafios se colocam ao Bom Jesus?
Entre os desafios apontados pelos participantes estão a inovação na relação com visitantes, turistas e a própria população de Braga, a articulação com novos parceiros, reflexão sobre maneiras de reforçar o sentimento da população de Braga relativamente ao Bom Jesus. “Não há efectiva conservação sem as populações sentirem que são parte do desafio”, frisou Moraes Cabral.
Já Teresa Andresen desafia “a Arquidiocese, Confraria do Bom Jesus e Município de Braga a assumirem uma liderança, com a UMinho e a Universidade Católica, na reflexão e na construção da relação do homem com a natureza, sobre a religião nos dias de hoje e sobre as novas práticas da conservação e gestão do património ao encontro das necessidades emergentes”.
