“Os partidos precisam de refletir e não desistir das pessoas”

Os partidos “devem refletir sobre o caminho que têm pela frente”, permitindo uma proximidade com os cidadãos sem ligações partidárias. A mensagem é do principal impulsionador do Movimento Contra a Indiferença, lançado em Braga no passado dia 25 de abril com o objetivo de promover a reflexão entre a sociedade civil e os partidos tendo em vista a redução da taxa de abstenção nos próximos atos eleitorais.

Esta terça-feira, em entrevista ao programa Campus Verbal, Paulo Sousa sublinhou que a responsabilidade do afastamento dos cidadãos da política é de todas as partes. O bracarense pede aos partidos que “não desistam das pessoas”, mas diz que para isso é necessário “fazer uma reflexão muito grande sobre o caminho que têm pela frente, repensando o modelo de organização para ser possível essa proximidade”. O antigo jornalista sugere “um encontro da cidadania com a política em que mais do que procurar culpados é premente encontrar as causas deste afastamento”.

Este movimento “inclusivo” que surgiu em Braga quer garantir que “ninguém fique para trás”, o que significa, na opinião de Paulo Sousa, que os candidatos “têm que estar abertos ao confronto”, algo “fundamental para que a pessoa vote informada, consciente e responsável”. O movimento que surgiu no passado dia 25 de abril tem angariado subscritores de todos os quadrantes políticos, assim como membros de associações juvenis, associações culturais, mas também empresários.

Paulo Sousa assume que a associação de empresários a esta causa cívica tem sido uma “surpresa positiva”, já que regra geral “olham para a política com alguma distância”. Considera que neste caso “os empresários sabem que uma melhor democracia também significa melhor economia, e um bem estar social significa também melhores condições para desenvolverem a sua atividade”.

Entre as linhas orientadoras do manifesto estão ideias como a fragilidade da própria democracia. “Os dados publicados há poucos meses dizem-nos que 35% dos portugueses rejeitam uma autocracia. Dizem muito bem da democracia, querem a democracia, mas não se importavam de abdicar dessas liberdades e de termos um regime autocrático, quando há uns anos era 50%. Isto revela que a democracia se tem vindo a degradar”, exemplifica.

Sustentando que os partidos se fecharam e que as sedes partidárias “deixaram de ser espaços plenos de democracia”, Paulo Sousa aponta parte da culpa aos partidos pelo afastamento dos cidadãos na hora de votar, ainda que sublinhe que os próprios cidadãos devem refletir sobre as suas ações.

O bracarense vai mais longe e realça a ideia de que os cidadãos se esquecem que são seres políticos. “O exercício da cidadania é político e nós desistimos dele. A determinada altura optamos pela economia e deixamos a ideologia, entregamos aos partidos políticos o exercício político, esquecendo que cada um de nós é um ser político. Este movimento quer que cada um, sem receios, sem medo, procurando o debate e procurando informar-se, possa exercer esse lado político”, argumenta.

Semana da Democracia conta com a participação dos partidos políticos candidatos às autárquicas em Braga

Uma das ações previstas pelo movimento antes do próximo ato eleitoral será a “Semana da Democracia”, de 6 a 12 de setembro, com debates, exposições e um ‘Dia Aberto com os partidos políticos’ (a 11 de setembro). No dia aberto, as sedes dos partidos vão estar abertas. Os que não têm, estarão na rua com uma bancada onde as pessoas “podem conhecer o programa, podem debater”, acrescenta. “Os partidos entenderam que uma redução da abstenção significa uma distribuição de novos votos que até aí não contavam”, finaliza.

Uma vitória para este movimento passa pela inversão da curva da abstenção. No caso de Braga, nestas eleições autárquicas surgem oito candidaturas distintas à CMB, “um sinal de vitalidade e de que não está tudo mal em democracia”, diz.

[CAMPUS VERBAL] – OUVIR A ENTREVISTA COMPLETA A PAULO SOUSA – MOVIMENTO CONTRA A INDIFERENÇA