“O ilustrador é um autor, não é alguém que faz bonecos”

É “urgente” a criação de uma associação de ilustradores para zelar pelo estatuto do ilustrador em Portugal. Quem o diz é Pedro Seromenho, ilustrador, escritor e diretor artístico do Encontro de Ilustração Braga em Risco, cuja 8ª edição está a decorrer até domingo na cidade dos arcebispos.
Estima-se que em Portugal existam atualmente cerca de 600 ilustradores, com uma boa parte representada no Minho e no Norte do país. O bracarense Pedro Seromenho reconhece que depois de se ter tornado um tema de discussão recorrente entre estes profissionais, está na altura de se dar o primeiro passo para a constituição de uma organização representativa da classe.
“É algo que falta, que começa a ser urgente e que é discutido entre todos. Temos que nos unir, dar o primeiro passo, começar a desenhar os estatutos, a equipa, os órgãos, tendo como principal objetivo zelar pelo estatuto profissional do ilustrador, pelos seus direitos e os seus deveres também”, resume.
Pedro Seromenho confessa ainda que lhe causa “muita urticária, as pessoas continuarem a ver o ilustrador como alguém que faz bonecos ou alguém que decora o texto do escritor”. Afirma que isso “está completamente fora de moda” porque um ilustrador “é um autor” e há livros apenas em que o ilustrador faz o livro todo. “Hoje os dois convivem e cada um conta a sua história”, refere também.
Pedro Seromenho refere que há vários caminhos que estes profissionais têm seguido, a maioria a tempo inteiro, contrariamente a algumas ideias formatadas. “O ilustrador, cada vez mais profissionalizado, tem um trabalho diversificado, que vai desde cartazes de eventos, a um livro, a um artigo no jornal a ilustrar, editorial, vários caminhos, mas continua a ser uma profissão um pouco desvalorizada e subentendida quase como um part-time ou algo de alguém que é designer e depois vai ilustrando uns livros”, completa.
Há um grande foco de ilustradores no Minho
A instalação de escolas e a oferta formativa nalgumas regiões acaba por ser um motor representativo do setor também. De acordo com Pedro Seromenho, “há um foco em Braga e no Minho, por força não só da Escola Superior de Design do IPCA, mas do Mestrado de Ilustração”, assim como a Escola de Belas Artes do Porto, a ESAD de Matosinho (Escola Superior de Belas Artes e Design, o IPVC e a UBI. “Obviamente que em Lisboa e no Porto há um grande foco”, constata.
Portugal apresenta cada vez mais festivais de ilustração que são também um importante contributo para o contacto e valorização da classe de ilustradores no país. Defensor de parcerias e redes, Pedro Seromenho acredita que a associação “é um órgão coletivo que vai dar uma voz que os ilustradores ainda não têm”, com o bracarense a manifestar-se “sempre pronto” para as causas que defende.
