Nuno Dias recolhe letreiros para “preservar e perpetuar o património gráfico” de Braga

Caminhar pela cidade de Braga como num jogo de ‘Pokemón Go’ e identificar letreiros de lojas, que outrora ali ‘viviam’. A ideia partiu de Nuno Dias, coordenador do projeto ‘Letras de Braga’, que pretende “preservar e perpetuar o património gráfico” da cidade.

O projeto surgiu em 2016, inspirado por um livro de uma designer italiana, com documentação fotográfica das fachadas de Paris, que o levou a “pensar que seria interessante fazer algo parecido em Braga”. Assim, durante as voltas que dava pela cidade, passou a “fotografar tudo o que via” e a fazer um “diário fotográfico” de elementos gráficos e tipográficos que encontrava pelas ruas para que ficassem registados.

Conforme fotografava, percebeu “rapidamente” que estes espaços comerciais estavam sempre “associados à componente nostálgica, à memória e a uma história”. Com alguma resiliência, recorda, “o projeto foi crescendo”.

O ‘Letras de Braga’ passou por um novo capítulo em 2021, quando alguns espaços comerciais históricos não resistiram ao impacto da pandemia e encerraram. Nuno Dias recorda que, ao voltar aos passeios pelas ruas da cidade, reparou que os letreiros “estavam a ser destruídos e a desaparecer”.

Para evitar que esta passagem da história fosse descartada, passou a receber letreiros, em busca de “preservar estes objetos” que identificavam alguns locais emblemáticos da cidade. Nuno Dias recorda que queria começar a salvaguardar por “um dos melhores letreiros que apareceram nas ruas da cidade”.

O primeiro recuperado, revela, foi o que pertencia ao ‘Foto Espaço’, um atelier de fotografia na rua de São Marcos, que entretanto fechou. Com um formato de um foguetão, o designer não sabia se este objeto ainda existia e se estaria, como outros, “parados em sótãos e garagens”. Após perguntar a amigos, conseguiu chegar aos antigos donos do espaço e encontrou o letreiro “no sótão do edifício, cheio de entulho por cima, prestes a ir para a sucata, que é o destino da maior parte destes elementos”. Assim começou a ‘saga’ e a utilizar a velha garagem da sua casa para alocar estes materiais.

Entre os letreiros, conta com um que possui cinco metros

Após alguns anos, o projeto já conta com 44 letreiros resgatados, alguns pequenos e outros que ultrapassam os cinco metros, como o do ‘Residencial Avenida’, na Avenida Central, que “teve até de ser cortado a meio para o conseguir levar para casa”. Este, conseguido com o apoio de Luís Tarroso Gomes, direção da Velha-a-Branca, com quem Nuno Dias tem parceria no projeto desde 2022, que, assim como os de grande dimensão, teve que ser guardado no antigo edifício do Estaleiro Cultural.

O responsável pela Velha-a-Branca aponta que o ‘Letras de Braga’ vem ao encontro com o trabalho realizado pela cooperativa cultural na preservação e valorização do património. Luís Tarroso Gomes ressalta que a cidade “em termos visuais, esta cada vez mais pobre” e que “as fachadas contam as histórias dos edifícios”. Por isso, sublinha que o trabalho realizado por Nuno Dias “é muito importante”, destacando que querem para a próxima fase “recuperar os letreiros, perceber como foram feitos e restaurá-los para colocar novamente a funcionar, iluminá-los”.

Para isso, depois de muito tempo guardados na garagem de Nuno Dias, os letreiros ganharam uma nova casa: o armazém da APPACDM (Associação Portuguesa de Pais e Amigos do Cidadão Deficiente Mental) onde, “numa próxima fase”, vão estar expostos. Segundo o presidente da instituição, Bruno Silva, o objetivo da parceria, assinada em abril deste ano, é permitir uma nova dinâmica ao projeto e aproximar a comunidade da associação, “um abrir de portas”. Além disso, avança, pretende integrar os utentes na manutenção dos letreiros e outros materiais recuperados.

Realidade aumentada pode ‘devolver’ os letreiros para onde ‘viviam’

Enquanto o espaço ganha forma, as ideias continuam a surgir e Nuno pretende devolver os letreiros aos seus locais de origem, mesmo que seja através de um dispositivo móvel e de realidade aumentada. O designer revela que já vetorizou 80 elementos gráficos e “desenvolveu três letreiros em 3D”. Assim, após colocá-los numa realidade aumentada e associar a uma geolocalização, basta ler o QR Code referente a este letreiro, caminhar pela rua até o endereço em que habitualmente o objeto se encontrava e lá estará o “letreiro de volta novamente na fachada” onde vivia.


O objetivo do projeto, ainda em estágio inicial, é “perpetuar o património gráfico através da realidade aumentada”. Aponta que também pretende desenvolver visitas guiadas, que tenham esta temáticas, além de outras iniciativas que valorizem estes elementos gráficos.

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Marcelo Hermsdorf
Marcelo Hermsdorf

Jornalista na RUM

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