Novo Arcebispo de Braga assume “vergonha” pelos abusos sexuais na Igreja

D. José Cordeiro tomou posse, este sábado, como Arcebispo Primaz de Braga, estando reservado para este domingo o seu ministério pastoral na Arquidiocese, numa celebração, às 16h00, na Catedral, onde marcará presença o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa.
O novo Arcebispo garante que “o medo é o maior obstáculo à esperança”. “Estou consciente da complexidade e da
responsabilidade da missão, mas não tenho medo, porque confio mais no amor do que no temor.
Os jovens e os pobres estarão na lista de prioridades de D. José Cordeiro.
D. José Cordeiro assumiu “vergonha e humilhação” pelos abusos sexuais praticados por membros da Igreja Católica e da sociedade em geral. “Tanto a Igreja como a sociedade chegaram tarde ao fenómeno. Estamos em tempo de juntos, com caridade, com compaixão e ternura, ouvir as vítimas com todas as pessoas que vivem e viveram esse sofrimento. Temos essa oportunidade de dar voz ao seu silêncio e falar desse sofrimento com todas as pessoas que foram afetadas, com as suas famílias. Cuidar de todas as feridas que foram abertas. É uma crise grande que vivemos”, frisou.
D. José Cordeiro apontou ainda a esperança de de ver chegar a Braga mais um bispo auxiliar. Recorde-se que D. Nuno Almeida é, há alguns anos, o único bispo auxiliar do arciprestado.
A relação com a Câmara Municipal foi outro do assuntos abordados e sobre isto D. José Cordeiro foi claro: “Cooperar reciprocamente, na construção do bem comum, na dignidade da pessoa humana, na construção da cidade, do território que habitamos. O que me predisponho, como Arcebispo de Braga, é fazer crescer a cultura do encontro, a fraternidade universal”. Recorde-se que a Arquidiocese e a Câmara de Braga mantêm alguns diferendos no que toca à propriedade de terrenos. Recentemente, D. Jorge Ortiga assumiu também alguma mágoa devido à exclusão da Arquidiocese no processo de candidatura de Braga a Capital Europeia da Cultura 2027.
Vinte e dois anos depois, D. Jorge Ortiga deixa de ser Arcebispo de Braga. No momento da despedida referiu que “a palavra é de D. José, que será o interprete para explicar o que a Palavra de Jesus quer ir dizendo à Igreja”.
“A Igreja sinodal é uma atitude, algo deontológico, dizer que caminhamos todos juntos. Quero caminhar com ele [D. José Cordeiro] para que a Palavra de Deus seja uma palavra que ecoe nas 552 paróquias e freguesias, em todos os grupos e comunidades, que são muitas e variadas”, afirmou o Arcebispo Emérito, admitindo que “o caminho será duro, será difícil, mas ele não caminha sozinho”.
Para D. Jorge, a Igreja “está num momento significativo que a todos responsabiliza” e, por isso, espera que o
trabalho “não seja apenas uma doutrina e uma teoria, mas essencialmente um compromisso”.
