“No final de 2022 os portugueses vão estar a viver pior”

No final de 2022, os portugueses vão estar a viver pior. Esta é a previsão do economista e professor da Escola de Economia e Gestão da Universidade do Minho, Fernando Alexandre, numa análise ao Orçamento de Estado para 2022 apresentado esta quarta-feira pelo Ministro das Finanças, Fernando Medina.

Em declarações à RUM, o especialista recusa utilizar o conceito de austeridade para descrever o documento, porém confessa que a mudança de comportamento das famílias poderá ser semelhante aquele observado durante o período da Troika, em Portugal.

O investigador do Núcleo de Investigação de Políticas Económicas (NIPE) assegura que o contexto macroeconómico vai resultar numa “redução do poder de compra das famílias portuguesas e da rentabilidade das empresas”. No caso dos funcionários públicos a previsão é que percam, no mínimo, 3% do seu poder de compra, um valor em linha com o dos cortes aplicados durante o Governo de Passos Coelho, porém não será um corte no vencimento nominal, mas sim que resulta do aumento dos preços.

Portugal passará a contar com nove escalões de IRS em 2022.


É dos únicos países da União Europeia com mais escalões de IRS a par do Luxemburgo. Isto uma vez que a maioria dos 27 conta apenas com cinco ou menos níveis. Na apresentação, o Ministro das Finanças, Fernando Medina, declarou que esta medida irá permitir reforçar os rendimentos das famílias, algo que Fernando Alexandre tem dúvidas. “Vai ter um benefício muito limitado para as famílias”, afirma.

Governo prevê inflação de 4% e cenário macroeconómico de 5% do Produto Interno Bruto (PIB).


Para Fernando Alexandre é “muito provável que haja mais alterações com significado no quadro macroeconómico”, adiantando que a tendência será de agravamento da taxa de inflação.

“Esperamos uma antecipação das medidas do Banco Central Europeu no sentido de contrariar esse aumento da inflação. Eu diria que que é o melhor quadro possível”, refere. Deste modo, o docente não coloca de parte a possibilidade de o Governo vir a apresentar um Orçamento Retificativo.

Quanto ao défice, previsto para 1,9%, Fernando Alexandre acredita que será beneficiado pela inflação, visto que o Governo tem alguma despesa no apoio às empresas e famílias, mas não está a repercutir isso em termos de despesa com salários ou pensões. “Seja do ponto de vista do défice seja da dívida pública, numa primeira fase, o impacto poderá ser positivo pois o PIB nominal vai aumentar quase 10%. O que faz reduzir de forma significativa o peso da dívida no PIB”, explica.

Contudo, caso o Banco Central Europeu aumente as taxas de juros os riscos deverão aumentar quer ao nível do crescimento económico quer da redução da procura e do PIB que é basicamente a estratégia para conter a taxa de inflação, segundo o especialista.

“É quase imoral o Estado estar a ganhar com o aumento dos combustíveis”.


Para ajudar a mitigar o aumento dos combustíveis, o Governo vai baixar o ISP num valor correspondente à redução do IVA de 23 para 13%. Uma medida há muito ambicionada pelos portugueses. 


Fernando Alexandre lembra que foi o Governo de António Costa que aumentou os impostos sobre os produtos petrolíferos. Neste momento, o economista diz ser quase “imoral” se o Governo continuasse na mesma trajetória num contexto de “dificuldade em que as pessoas estão a perder poder de compra”. Além disso, as pressões resultantes das constantes comparações entre os preços dos combustíveis portugueses e espanhóis têm vindo a subir de tom. 

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Vanessa Batista
Vanessa Batista

Jornalista na RUM

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