No dia Mundial do Médico de Família, profissionais e utentes destacam lado humano

Assinala-se esta sexta-feira o Dia Mundial do Médico de Família, este ano sob o lema: “Médico de Família: o coração dos cuidados de saúde”. Um profissional que pode encarar quase de forma literal o termo, diz-nos João Mário Marques, médico interno de formação específica em medicina geral e familiar na USF de Esporões. “É um especialista das pessoas, das famílias e das comunidades. O coração é aquilo que bombeia e que gera toda a circulação e é essa uma das nossas competências, não só a de articulação entre os diferentes níveis de cuidados, mas também ao nível dos cuidados hospitalares e de outros prestadores na comunidade. A verdade é que também acabamos por assumir uma postura de segunda opinião, de advocacia, de tirar dúvidas”, realça.
Já no terceiro ano de internato com trabalho na USF de Esporões, João Mário Marques destaca também a “comunicação, empatia e capacidade de conversar com o utente” como caraterísticas que devem ser assumidas por um médico de família.
Um profissional que tem que ser “profundamente humano” não se centrando apenas no aspeto científico e técnico, acrescenta Vítor Cardoso, médico assistente em medicina geral e familiar também na USF de Esporões.
“Os médicos de família conseguem resolver cerca de 90% dos problemas de saúde da população”, assinala o médico com base em estudos realizados a nível mundial. Trata-se de um serviço de saúde “altamente eficiente, com poucos recursos, mas com reconhecida qualidade no nosso país”, acrescenta.
É preciso diminuir a burocratização e atualizar os sistemas informáticos
A propósito das vagas que ficam por preencher nalguns pontos do país, João Mário Marques lembra que os estudantes que investiram “tantos anos e tanto tempo de trabalho não querem deixar de ser médicos de família”, mas é preciso dar condições a estes profissionais para o seu trabalho diário, além de um salário adequado.
As longas listas de utentes dificultam a tarefa. A burocratização da especialidade é outra das dores de cabeça. O trabalho de um médico de família vai para lá das vinte consultas presenciais diárias e na lista de reivindicações destes profissionais está “um sistema informático rápido, atual e fácil de utilizar”.
Médicos de família pedem tempo para trabalho de investigação
Nos planos de internato médico é recomendável a dimensão da investigação científica por parte dos médicos de família e esta é outra das preocupações, assume João Mário Marques, um jovem que sempre viveu no meio da comunidade onde nos dias de hoje trabalha.
“É trabalho que é feito 100% fora do horário laboral, muitas vezes com custos associados. Deve ser promovido e incentivado, mas é importante que haja condições para um médico poder fazer investigação e ser um médico também investigador”, argumenta.
USF de Esporões aguarda nova casa para os profissionais e para os mais de 5300 utentes
Com 5317 utentes inscritos, sem segurança à porta da unidade, os profissionais da USF de Esporões aguardam há muito por novas instalações, já que neste caso, o edifício destaca-se pela negativa face a muitos dos restantes que existem no concelho. A autarquia já sinalizou um terreno para a construção e o governo assumiu um compromisso, mas os profissionais pedem celeridade neste processo. Trata-se de um centro de saúde “pequeno” sem capacidade para obras de ampliação. A USF tem apresentado, segundo Vítor Cardoso, “excelentes resultados” aguardando-se “com grande expetativa mais desenvolvimentos nessa matéria”.
Utentes da USF de Esporões desafiados a definir numa palavra o que é um médico de família
No âmbito da efeméride que assinala neste 19 de maio, na USF de Esporões os profissionais de saúde desafiaram os utentes a responder a um questionário a propósito da definição do que é ou deve ser um médico de família. Os resultados são divulgados hoje junto desta comunidade.
O objetivo passou por incentivar as pessoas a refletirem sobre esta figura e os profissionais a perceberem melhor como se devem colocar. Recolhidas as múltiplas respostas na última semana, os responsáveis saúdam a participação.
“Amigo”, “empatia”, “companheiro”, “compromisso” estão no top das respostas. “Isto encheu-nos de orgulho. A maior parte de nós quando pensa na medicina geral e familiar à cabeça tem estas ideias. Deixa-nos orgulhosos que os nossos utentes valorizam isso e, obviamente, vamos tentar todos os dias adequar-nos à exigência deles”, conclui.
