Legislativas 2025 29.05.2025 16H01
José Palmeira. "Há margem para estabilidade nos próximos tempos"
Especialista em Ciência Política da UMinho analisa novo quadro parlamentar e admite que há condições para estabilidade política nos próximos tempos.
O novo mapa parlamentar português confirma o crescimento da direita e reposiciona forças no hemiciclo. Para José Palmeira, professor de Ciência Política da UMinho, o resultado das legislativas trouxe "uma alteração significativa ao quadro partidário", analisa.
Apesar da fragmentação e ausência de maioria absoluta, José Palmeira considera que há margem para estabilidade governativa e explica porquê. “O enfraquecimento eleitoral do Partido Socialista significa que este partido não tem interesse numa crise política nos próximos tempos". Por outro lado, o investigador lembra que "não vai possível dissolver o Parlamento nos últimos seis meses de mandato do Presidente da República", o que se traduz em "toda uma situação que é favorável a alguma estabilidade".
Segundo o politólogo, esta margem poderá traduzir-se num “não-chumbo do programa do Governo” e num “acordo possível para viabilizar o Orçamento em outubro”.
Crise política "só alimenta partidos extremistas"
O docente destaca a responsabilidade dos partidos moderados, que devem "cooperar no sentido de os cidadãos beneficiarem o máximo possível das ações do Governo" e lembra que "crises sucessivas só alimentam partidos extremistas que vivem à custa da contestação antissistema e cujo discurso assenta muito nessas premissas.”
Ainda assim, José Palmeira deixa um alerta: a conjuntura externa pode mudar tudo. Se o ambiente económico piorar, o cenário muda. "Se o partido do Governo começar a apresentar nas sondagens maus resultados, isso pode incentivar a oposição a abrir uma crise política e a provocar eleições. Não digo que isto aconteça no próximo ano, ou se calhar no prazo de dois anos, mas pode acontecer daqui a dois anos, e podemos voltar a ter eleições antecipadas", antecipa.
“Quem se está a aproveitar do descontentamento é a direita radical”
José Palmeira vê na ascensão do Chega parte de uma tendência global. A novidade, diz, é que a contestação já não é liderada pela esquerda. "Aquilo que é se calhar novo é que quem se está a aproveitar do descontentamento é a direita radical, enquanto que no passado a esquerda, incluindo a esquerda radical, é quem liderava os protestos.
Agora não é esse bloco que está a beneficiar do descontentamento”, examina, recordando que em breve há eleições presidenciais e que o próximo Chefe de Estado "também pode ter um contributo no sentido de procurar, junto das forças políticas, sensibilizá-las para a necessidade de estabilidade".