Braga oficializa candidatura a Capital da Cultura 2027 com foco no património e na ligação ao território

O município de Braga oficializou esta sexta-feira, dia 27, a sua candidatura a Capital Europeia da Cultura (CEC) 2027 através de uma sessão no Altice Forum Braga, onde o legado histórico e a ligação da cidade ao restante concelho foram apontadas como duas das principais vantagens de Braga em relação às restantes nove candidaturas portuguesas ao título.
O acto solene apresentou uma sessão de reflexão com responsáveis políticos e ligados aos processos de candidatura de CEC, na qual se abordou os objectivos já conhecidos para a cultura de Braga na próxima década. O presidente da Câmara de Braga, Ricardo Rio, serviu de moderador aos diversos interlocutores e no final, aos jornalistas, identificou a importância da “riqueza da história e do património” de Braga, representados nos “mais de 2000 anos de legado até à actualidade” como aspectos diferenciadores às cidades de Aveiro, Coimbra, Évora, Faro, Funchal, Leiria, Guarda, Oeiras e Viana do Castelo, restantes candidatas ao desígnio de 2027.
Rui Moreira, presidente da Câmara do Porto, cidade que acolheu o título em 2001, foi um dos presentes no debate, tendo apresentado a evolução cultural da cidade portuense no pós-CEC. O autarca explicou que, antes de 2001, o Porto tinha uma “cultura para as elites” e que o título ajudou a levar a cultura a outros públicos.
“Criámos uma procura diferenciada, de cruzamento de públicos. Sabíamos que o futuro da cidade passava pelo pilar da cultura e que havia apetência do cidadão comum para actividades que, na altura, eram marginais e que hoje não são”, enfatizou, acrescentando que o Porto deixou de ser “uma cidade que consumia cultura para uma cidade que produz cultura”.
Referindo-se depois a Braga, o autarca elogiou a “forte componente histórica, identitária, e do património material” do concelho em relação às outras candidaturas mas recordou a importância de “o cidadão ter de deixar de ser espectador para contribuir no processo e ser curador de si no território”, explicando que “a ideia não é aculturar a cidade mas sim a de promover a cultura”.
Galiza vê CEC como oportunidade de reforçar ligação transfronteiriça
Alberto Núñez Feijóo, presidente do Governo Regional da Galiza, também identificou o património histórico de Braga como potencial aspecto diferenciador em relação às outras candidaturas mas acrescentou as áreas da economia, da ligação ao ensino superior e da geografia – por se encontrar a meio da Galiza e do Porto.
O responsável político abordou ainda a evolução de Santiago de Compostela desde 2000, ano em que a cidade galega recebeu o desígnio de CEC, e assumiu que o envelope financeiro recebido à época “foi uma enorme oportunidade”, assinalando também que Braga CEC 2027 seria “fundamental para a eurorregião”.
É essencial “desenvolver massa crítica”
Cristina Farinha, membro do júri internacional de selecção e monitorização da CEC, deu uma perspectiva interior do processo de candidatura e alertou que, ao contrário de anos anteriores, o desígnio de CEC já “não produz efeitos imediatos”, lembrando que a comissão que lidera o processo de candidaturas já não vê o título de forma anual.
“Agora é um projecto de desenvolvimento territorial e urbano através da cultura” disse, assinalando que a cidade candidata é obrigada a apresentar um plano estratégico a longo prazo (já apresentado por Braga). A responsável deu, por isso, especial ênfase ao “envolvimento dos cidadãos” e à importância do “desenvolvimento de massa crítica”.
“O legado é uma obsessão do júri e 2027 não pode ser o fim mas sim o meio para potenciar a cultura da cidade. As câmaras municipais têm de ser facilitadoras para que a sociedade civil possa actuar por si mesma: os cidadãos fazem parte da vida da cidade”, lembrou.
Cristina Farinha explicou que a CEC tem ainda o “objectivo de discutir e ter parcerias europeias”, realçando que, além dos 25 milhões de euros que estão destinados à cidade vencedora, haverá, depois, “oportunidades de apostar em infraestruturas através de outros fundos que vão aparecer”.
Município vai plantar 2027 medronheiros
Para além das intervenções dos convidados, a candidatura de Braga a CEC 2027 apresentou uma novidade: nos próximos meses serão plantados, em todo o concelho, 2027 medronheiros. O tempo médio para esta espécie autóctone produzir a baga vermelha que lhe é característica são seis anos, antes, por isso, do ano da Capital.
A escolha da cidade portuguesa vencedora será feita por um júri composto por dez peritos independentes, nomeados por instituições europeias, e para o qual Portugal escolherá dois elementos entre Janeiro e Junho do próximo ano. Em 2023, será anunciada a vencedora.
