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Foto: André Rodrigues/Público
Pedro Magalhães

Regional 11.11.2020 07H30

Bares junto à UMinho perdem mais de metade da facturação e há quem admita pedir insolvência

Escrito por Pedro Magalhães
Numa zona que vive sobretudo dos estudantes e do consumo de álcool, o período da noite é essencial para o negócio continuar.
Comerciantes Marina Vieira, Mário Abreu e Susana Ferreira

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Os bares do largo dos Peões, junto ao campus de Gualtar da Universidade do Minho, em Braga, estão a sofrer um forte impacto com a pandemia e alguns já admitem pedir insolvência. A zona é conhecida pelo convívio entre estudantes, que alimentam o negócio.


A RUM visitou o local esta terça-feira à tarde e viram-se algumas pessoas sentadas nas esplanadas dos bares. À noite, porém, tudo muda. "Tivemos uma redução de 70% de facturação no período da noite desde Março", diz Mário Abreu, proprietário de um dos bares do largo. 


Desde o início da pandemia, os bares foram obrigados a várias alterações de horário: no início fecharam, depois reabriram em Junho com limite de entrada de clientes até à meia-noite, e agora encerram às 22h00 à semana e às 13 horas ao fim-de-semana. Numa zona que vive sobretudo dos estudantes e do consumo de álcool, o período da noite é essencial para o negócio continuar. 


"Vendia mil litros de cerveja por semana, agora vendo o mesmo num mês", sublinha Mário, revelando que, no espaço de nove meses, já despediu três funcionários. "Estavam a recibos verdes e não podia fazer contratos. Não tinha condições porque já sabia o que ia acontecer em Novembro e Dezembro", diz.



Há já quem admita pedir insolvência

Também Marina Vieira, proprietária do bar em frente ao de Mário, diz que a pandemia obrigou à dispensa de três funcionários. "Fiquei eu e a cozinheira", revela, antecipando um cenário negro para o futuro do seu negócio. "Já perdi muito dinheiro, só na noite perdi 75% da facturação. Posso ter de pedir insolvência", lamenta.


Com a pandemia, Marina aumentou o serviço de restauração do seu bar mas nem assim as coisas melhoraram. "Já temos take-away, mas nesta zona de estudantes não é fácil. Cada vez são menos os que têm aulas presenciais", sublinha, admitindo, visivelmente agastada com o tempo de incerteza, "o desgaste psicológico que não deixa pensar" numa alternativa ao que já implementou.


A proprietária não vê uma solução imediata para o seu negócio e até nem discorda das medidas de restrição à circulação impostas pelo Governo. "Não queria estar na pele deles, e não sei o que poderia fazer diferente", diz.



Bares e discotecas estão a passar "por uma situação horrível"

Não é só de bares que se faz a zona nocturna junto ao campus de Gualtar da Universidade do Minho. Acima do largo dos peões, na rua Nova de Santa Cruz, encontra-se uma garrafeira, propriedade de Susana Ferreira. O estabelecimento vende bebidas directamente a clientes mas também a bares e cafés. 


Susana diz que já perdeu "mais de metade da facturação" desde Março e assume que o futuro não é risonho. "É incerto, tenho bastante receio por mim e pelos meus clientes [bares e restaurantes]", diz. 


A comerciante, que está no ramo há mais de dez anos, assinala que nunca viu um cenário semelhante a este no negócio da diversão nocturna. "Basta ver quantos cafés, bares e restaurantes à volta estão abertos... Conheço casos de discotecas, onde trabalham marido e mulher, que não têm escape para se salvaguardarem", refere, perspectivando um cenário "horrível" no sector.



O medo de as festas caseiras se tornarem "um hábito"

Desde o passado dia 4 de Novembro, os bares estão obrigados a encerrar às 22h30 durante a semana, numa medida decretada pelo Governo para evitar ajuntamentos junto aos estabelecimentos. Susana Ferreira concorda com a decisão, por acautelar a "segurança", mas apela a que sejam atribuídos mais apoios à restauração. "Alguma terá coisa de se fazer, senão entramos numa miséria grande", diz.


Mário Abreu revela que, por causa do encerramento às 22h30, teve de acabar com as noites académicas à quarta-feira, ocasiões que geravam rendimento indispensável para as contas no final do mês. O comerciante discorda, por isso, da decisão do Governo visto que, diz, muitos dos estudantes reúnem-se em casa para conviver após o encerramento dos bares.


"É uma medida que nos prejudica, porque temos de pagar a renda, e prejudica-lhes porque eles continuam as festas em casa [em espaços não controlados]. Pode tornar-se um hábito e, se calhar, no futuro não vale a pena continuarmos abertos", lamenta.

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