“Não vivemos de palmas, vivemos de salários iguais”

“Trabalhos iguais, salários diferentes”. A indignação de Clarice Matos é transversal ao universo de cerca de 800 trabalhadores das carreiras gerais do Hospital de Braga, que esta segunda-feira manifestaram à entrada da unidade de saúde bracarense, pedindo um acordo colectivo de trabalho.
A adesão à greve, entre os funcionários que estavam escalados para o dia de hoje, ronda os 90%, segundo o Sindicato dos Trabalhadores em Funções Públicas e Sociais do Norte.
A secretária-geral da CGTP juntou-se à luta dos trabalhadores, considerando “escandaloso e inaceitável que o ministério da Saúde e a administração do Hospital estejam a prolongar tanto tempo o ultrapassar de uma situação de discriminação gritante, porque estes trabalhadores são iguais aos dos outros hospitais E.P.E (Entidade Pública Empresarial) do país”. “Só a eles é que não é aplicado o acordo colectivo de trabalho. São trabalhadores a quem tem sido solicitado um esforço superior e recebem palmas, mas não recebem o que é seu por direito: igualdade salarial, horários de trabalho iguais, carreiras profissionais e a valorização do seu trabalho”, frisou Isabel Camarinha.
Orlando Gonçalves, coordenador do Sindicato dos Trabalhadores em Funções Públicas e Sociais do Norte, deu conta de que há assistentes técnicos no Hospital de Braga a ganhar 645 euros, mas os profissionais contratados desde Setembro estão a ganhar 693 euros. “Pela tabela Função Pública com menos de dez anos de serviço teriam que ganhar 693 e com mais de dez anos teriam que ganhar 791”, explicou.
Quanto a assistentes operacionais, o salário é de 645 euros, mas alguns, contratados no tempo da gestão privada para trabalhar 35 horas semanais, ganham abaixo do salário minímo, 550 euros”.
O sindicalista comentou ainda as justificações apresentadas pela administração do Hospital de Braga à RUM, dando conta de que apesar de ter sido selado o acordo colectivo de trabalho com os enfermeiros, este só entraria em vigor quando todas as carreiras tivessem o acordo definido.
Orlando Gonçalves não põe em causa o empenho na resolução deste processo, mas frisa que “por muito esforço” que esteja a ser feito a situação permanece igual e sem ser dada uma “satisfação aos representantes dos trabalhadores”.
“Tentaram enganar os enfermeiros também. É de muito mau tom assinarem um acordo e este não estar a ser aplicado. Não há grande seriedade. O acordo quando é subscrito deve ser depositado logo na Direcção-Geral do Emprego e das Relações de Trabalho e esperar o tempo da publicação que, normalmente, são 15 dias. Assinar os acordos e deixá-los na gaveta não resolve o problema dos trabalhadores”, comentou.
Isabel Camarinha diz que em causa não está “uma questão de finanças”. “Com tantos milhões de euros de apoio às empresas, até aquelas que não precisam, transfira-se para aqueles que efectivamente precisam”, apontou a secretária-geral da CGTP.
Sindicato e trabalhadores garantem que se o Governo e a administração do Hospital não chegarem a um acordo as formas de luta vão intensificar-se.
“É desmotivante olhar e ver uma colega que entra há dois dias ganhar mais do que eu”
“Somos profissionais, somos essenciais” ou “35 horas semanais para todos são iguais” foram algumas das frases proferidas pelos trabalhadores que esta segunda-feira se concentraram à entrada do Hospital de Braga.
Elisabete Alves é assistente operacional e trabalha há nove anos na unidade de saúde. Assinou, no tempo do Grupo Mello Saúde, um contrato de 35 horas semanais que lhe vale um salário de 565 euros. “Não têm vergonha de nem nos dar o salário minimo”, disse em declarações à RUM, apontando para cerca de “uma centena de colegas nessa situação”.
Maria Gonçalves já dedicou 17 anos de actividade profissional ao Hospital de Braga. Ganha 635 euros, por 40 horas de trabalho semanais. Pede para “passar para as 35 horas e um aumento salarial mais significativo”. “Como profissionais de saúde estamos sempre a dedicar-nos aos doentes e a nossa carreira precisava de ser mais valorizada”, lamentou.
Clarice Matos é assistente técnica há oito anos. “Trabalhamos na época da pandemia, com muito profissionalismo, mas não vivemos de palmas. Agradecemos, porque são boas para o ego, mas vivemos de igualdade do nosso salário. É desmotivante olhar e ver uma colega que entra há dois dias ganhar mais do que eu. Eu ganho há oito anos 645 euros, actuliazaram 10 euros há um mês”, apontou a trabalhadora, assegurando que “quem trabalha as 35 horas semanais ganha 684 euros”.
“Luto por mim, pelos colegas e por condições melhores de trabalho.Tudo isto cria transtorno a quem tem que vir ao hospital, mas pedimos às pessoas que entendam o nosso lado”, apelou.
Administração do Hospital diz que “processos de adesão aos ACT’S dos diferentes grupos profissionais estão a ser tratados”
A administração do Hospital de Braga, tal como havia adiantado à RUM, assegura que “continua fortemente empenhada na resolução do processo de adesão aos Acordos Colectivos de Trabalho dos seus trabalhadores, assegurando um diálogo permanente, quer com a Tutela, quer com a com a Direção-Geral do Emprego e Relações do Trabalho (DGERT) para a conciliação de posições entre todas as partes que resulte num consenso para a celebração destes Acordos”.
Em comunicado, o conselho de administração garante ainda que “todos os processos de adesão aos ACT`S dos diferentes grupos profissionais estão a ser tratados de forma equitativa e imparcial, havendo a preocupação constante para a sua resolução”. “Harmonizar as condições de trabalho dos trabalhadores, nomeadamente nas atualizações salariais e uniformização da carga horária semanal, é matéria de indiscutível relevância para este Conselho de Administração que manterá a sua atenção e foco
para a resolução destes processos”, lê-se ainda.
