“Não soubemos aproveitar para crescer a seguir ao Mundial 2007”

Marcello d’Orey alerta para que não sejam cometidos os mesmos erros que se verificaram após o Mundial de Râguebi de 2007. O antigo internacional português, que se despediu da seleção precisamente nessa prova, foi o convidado do RUM(O) Desportivo, emitido na sexta-feira.
Olhando para a segunda presença lusa em campeonatos do mundo, em 2023, também em França, com a primeira vitória de sempre, diante das Ilhas Fiji, considera que “superou as expetativas”. Marcello d’Orey fala numa prestação “brilhante”, elogiando o facto de ter jogado “de igual para igual” com todos os adversários.
Depois do elã conseguido, o advogado de profissão espera que “os grandes problemas pós-Mundial de 2007 não venham a ocorrer”. “Nós não soubemos aproveitar e crescer com o boom e com toda a exposição que veio a seguir”, salienta.
Marcelo d’Orey, que, enquanto atleta, passou por emblemas como o Centro de Desporto da Universidade do Porto (CDUP) e o Essex, em Inglaterra, argumenta que “os clubes não tiveram as condições técnicas e de espaços” para fazer as melhorias necessárias e que “a federação não soube trabalhar nisso”.
No seu entender, a falta de infraestruturas é “um problema que persiste em várias modalidades”, mas que se “nota um pouco mais no râguebi”. Cada clube, sustenta, “precisa de ter um, dois ou três campos para o desenvolvimento dos escalões de formação”, além dos seniores. “Ainda temos algum défice nessa área”, lamenta.
A equipa de Portugal que esteve no Mundial 2023 foi composta por um misto de atletas com dupla nacionalidade e trajeto fora do país e de jogadores que vieram das seleções jovens. De acordo com Marcello d’Orey, para “um país pequeno e que não tem muito dinheiro para trazer profissionais do mundo inteiro”, torna-se imperioso apresentar uma “boa base”. “É um trabalho a médio/longo prazo”, assinala.
Marcello d’Orey aponta para “uma bola de neve díficil de dar a volta”
Questionado sobre se há algum tipo de centralismo no râguebi português, Marcello d’Orey, também com experiência como treinador, nomeadamente no CDUP, Clube de Rugby de Famalicão e no Sport Clube do Porto, considera que há uma dispersão cada vez maior de clubes pelo país. No entanto, por outro lado, existe “uma bola de neve difícil de dar a volta”, sobretudo nas camadas jovens.
“Os clubes de Lisboa têm crescido bastante e o fosse em relação às outras equipas alargou. Normalmente, os jogadores que vão à seleção são dos clubes com melhores resultados. Desenvolvem-se mais, voltam aos clubes e depois fazem aumentar a qualidade das equipas. Como temos poucos jogadores fora dessa elite, torna-se muito complicado”, reflete.
