Do visível ao invisível: o mundo por detrás das vitrinas do Museu D. Diogo de Sousa

O Museu de Arqueologia D. Diogo de Sousa, em Braga, recebeu cerca de 1.300 visitantes a mais, nos primeiros sete meses de 2025, do que no mesmo período do ano anterior, segundo a informação avançada pela direção da entidade à RUM. Já são mais de 50 mil peças inventariadas, nem todas em exposição.
Como descreve a diretora Maria José Sousa, existem “várias possibilidades de visita e de uso fruto dos espaços” do museu. O chamado ‘núcleo principal’ conta com peças expostas provenientes da pré-história, que passam pelo Paleolítico e chegam na época da Braga Romana. Entre os artefactos expostos e recebidos pelo local, a maior parte, “proveniente de Bracara Augusta, que foi uma cidade fabulosa na época romana e que é a atual cidade de Braga”, destaca.
Logo à entrada do museu, há a sala de exposições temporárias que, atualmente, está ocupada por parte das obras doadas pelo casal Marion e Hans-Peter Bühler-Brockhaus, “uma coleção de peças essencialmente gregas, etruscas e romanas”, que ultrapassa o espaço físico da sala. “São aquelas peças de arte clássica que nós costumamos ver nos grandes museus de Londres, Paris ou Nova Iorque, e que agora tem o privilégio de poder ver essas peças em Braga”, comemora.
Além do espaço expositivo, o museu é um “sítio arqueológico”, por estar instalado dentro do que foi “a cidade romana de Bracara Augusta” e a poucos metros do Teatro Romano da Cividade”. A diretora recorda que aquando da construção do Bloco Técnico, que foi o primeiro passo para o Museu, foi encontrada a ruína de uma casa romana com dois grandes painéis de mosaicos datados do século I, “que foi preservado em sítio e que também integra o circuito de visita”. Atualmente, está a passa por uma revitalização para tornar o espaço “mais atrativo”.
Fora dos olhos dos visitantes, salas ‘escondem’ o trabalho realizado pelos diversos técnicos do museu
Além de um museu em constante transformação, Maria José Sousa aponta que o D. Diogo de Sousa é “um local de acolhimento do material arqueológico, não apenas de Braga, mas da região Norte”.
Quando os “espólios” são recebidos, provenientes “de escavações ou salvamento e de acompanhamentos arqueológicos” são tratados, inventariados e documentados. Uma porta, ao lado da loja do museu, leva à uma sala, que a direção pretende estender, com estantes e armários de arquivo que contam com “sacos” de materiais que aguardam para a identificação.
No local, arqueólogos realizam a separação e identificação das peças, como num quebra-cabeças, muitas ainda não contabilizadas. A sala serve como sede para projetos de investigação para arqueólogos que realizam a identificação da origem dos materiais encontrados.
Nos andares que circundam os espaços expositivos, técnicos do museu ocupam os laboratórios de conservação e restauro, com a tarefa de agrupar e revitalizar os materiais. Há ainda um espaço para a criação de designers que auxiliem em identificar artefactos e os materiais. O museu ainda realiza parceria com outros espaços da região para a revitalização e limpeza de peças.
Nos primeiros sete meses de 2025 recebeu cerca de 1.300 visitantes a mais que no ano anterior
Em janeiro de 2024, o Museu D. Diogo de Sousa passou para a gestão da Museus e Monumentos de Portugal, que deu lugar a Direção-Geral do Património Cultural., o que alterou a forma como eram contabilizados os visitantes do espaço, segundo a responsável.
A diretora aponta que o museu tem percebido um crescimento nos visitantes que passam pelo espaço, desde a mudança de gestão. Entre janeiro e julho de 2025, visitaram o espaço cerca de 1.300 pessoas a mais que no mesmo período de 2024. Foram 12.826, contra 11.562 no ano anterior. Entre estes visitantes, nos primeiros meses do ano, 8.840 eram portugueses e 3.986 estrangeiros, amplitude semelhante ao verificado em 2024, 7.528 nacionais e 4.034, estrangeiros.
Os portugueses e residentes em Portugal passaram a poder visitar 37 museus, monumentos e palácios do Ministério da Cultura no Continente, gratuitamente, 52 dias por ano, a qualquer dia da semana, desde 2024. Segundo a diretora do museu, o espaço tem recebido cerca de “400, 450” gratuitidades por mês.
Para manter a relação com a comunidade a direção tem apostado na diversificação das atividades
Entre as atividades que o Museu realiza para aproximar-se da comunidade, está a cedência do local às segundas-feiras através de um protocolo com o Instituto Português do Sangue para que os bracarenses possam realizar doação de sangue, no dia em que o museu está encerrado. Ainda recebem a visita de “pelo menos 15 escolas por mês”. Maria José Sousa ressalta que buscam com que “as pessoas sintam vontade de vir e que com elas tragam amigos familiares, criando assim também ligações de proximidade, criando visitas específicas para grupos”.
Por isso, tem aposta numa programação de palestras, concertos de jazz e apresentações incluídas na Noite Branca de Braga. “Assim como estamos a fazer isso com os próprios utilizadores da cafeteria, colocamos uns painéis sobre peças de destaque da coleção do museu dentro do espaço da cafeteria para que as pessoas que venham almoçar ao museu tenham também vontade para visitar a exposição”, finaliza.
