Mudança para o sopé do Picoto não agrada à maioria dos feirantes

“Somos filhos e feirantes do mercado”. As palavras dos vendedores na feira ambulante, que vai passar da alameda do Estádio Municipal de Braga para o sopé do Monte Picoto, mostram a insatisfação de quem já viu melhores dias para o negócio.
Cândida Santos e José Ribeiro herdaram, nas imediações do Mercado Municipal, onde se realizou a feira por muitos anos, o lugar da mãe do vendedor. Hoje, junto ao Estádio, o negócio “é um cemitério”, mas a mudança para o sopé do Picoto “ainda vai ser pior”. Apesar de denunciarem a falta de policiamento e o número de transportes para a zona onde ainda estão este mês, os vendedores preferem manter-se junto ao Estádio, do que a mudar para uma nova localização.
O que todos ambicionam, na verdade, é o regresso ao Mercado, “onde já há lugares marcados” e lhes foi prometido um regresso, aquando da mudança, impulsionada pelas obras no edifício e pela pandemia da Covid-19. “Sendo cerca de 40 feirantes, que é o que consta em termos de requerimentos legais, cabemos no Mercado e nós constávamos no projeto da renovação do Mercado”, apontou Cândida Santos.
José Ribeiro diz que os feirantes estão a ser forçados a mudar-se para o sopé do Picoto, onde a feira semanal, à terça, “toda a gente praticamente está a desistir”, não considerando viável a mudança, que vai colocar no mesmo espaço três feiras por semana. “Os nossos clientes dizem-nos que não vão passar a cidade para ir lá”, argumentou o casal.
“A Câmara está a brincar com a nossa vida”
Fernando Serrano faz feira em Braga há mais de 40 anos e diz que a mudança “vai ser pior”. “Nós vivemos da feira”, lembrou. Em entrevista à RUM, a vereadora Olga Pereira explicou que “os compromissos que os vendedores assumiram, no sentido de permitir a passagem de veículos de emergência e assegurar em permanência as cargas e descargas do mercado, não se mostraram compatíveis”. No entanto, Fernando Serrano garante que estes transportes “sempre passaram, pela parte de baixo”.
“As condições (no sopé do Picoto) são péssimas”, adiantou Cândida Santos, apontando um espaço com “cerca de três metros de banca”. “E as carrinhas?”, questionam?
Conceição Ribeiro herdou o lugar da mãe e também ela teme a mudança. “Eu nunca fui à feira de terça, não imagino se mete muita gente, mas os clientes habituais, que eram deste lado, não vão lá”, frisou, lembrando ainda que “os comerciantes da terça-feira “não vai gostar da ideia”. “A Câmara está a brincar com a nossa vida”, apontaram os vendedores. Ana Pereira soube pela comunicação social da mudança e diz-se “muito triste”, com esta decisão, porque “nunca quis sair do mercado”.
Entre os clientes há quem veja uma oportunidade com a mudança e quem não concorde com ela
Entre os poucos clientes que passaram pela feira, numa quinta-feira chuvosa e fria, há quem veja uma oportunidade com a mudança e quem não concorde com ela.
Anabela Cunha frequenta a feira ambulante às quintas e sábados, mas quando mudar deixará de o fazer, porque “fica muito longe e não justifica, além de que não há estacionamento”.
A mesma opinião tem Luzia Soares. “Não acho bem, temos que passar pela cidade, fica tão longe. Acho que aqui estava melhor, tem estacionamento e tudo”, apontou.
Já Fátima Pinto é cliente certa de Conceição Ribeiro e, por isso, promete acompanhá-la na nova localização. “Acho que é mais central e penso que será melhor”, apontou.
Olga Pereira garante que haverá mais espaço para as bancas no sopé do Picoto
Contactada pela RUM, a vereadora Olga Pereira esclareceu que os vendedores “foram ouvidos ao longo dos últimos meses, em que transmitiram reclamações várias sobre a atual localização”. Segundo a responsável, a comunicação da mudança foi feita aos feirantes “em reunião, para a qual foram convidados quatro representantes dos vendedores ambulantes”.
Olga Pereira esclareceu ainda que, atualmente, “cada lugar tem três metros por dois, sem possibilidade de ter carrinha associada”. “No sopé do Picoto vão passar a ter cinco metros por 3,20, com possibilidade de ter carrinha de apoio”, acrescentou. A vereadora disse ainda “que espera que não seja necessário ter policiamento permanente para que as pessoas se sintam seguras”. “Essa necessidade não transmite uma boa mensagem aos potenciais clientes”, concluiu.
