“Idosos não podem desvalorizar perda auditiva”

Muitos idosos tendem a desvalorizar a perda auditiva que associam a envelhecimento, mas é preciso desconstruir esta ideia e incentivar os mais velhos para um rastreio auditivo que, feito no tempo certo, pode ter solução e em simultâneo evitar o isolamento social. Quem o diz é Vanessa Machado, técnica coordenadora do Serviço de Audiologia do Hospital de Braga. No passado domingo, 3 de março, assinalou-se o Dia Mundial da Audição e esta terça-feira, a instituição de saúde voltou a promover um dia dedicado ao rastreio auditivo que dá prioridade a pessoas que começam a sentir alguma perda auditiva.
Os inscritos são na sua maioria idosos. Nos centros de saúde, os médicos de família exploram cada vez mais este fator, encaminhando sempre que necessário para o hospital público com o objetivo de detetar problemas e procurar a melhor solução que nem sempre passa pela colocação de um aparelho auditivo. Um problema detetado a tempo pode evitar uma perda auditiva progressiva.
Em 2023, o Hospital de Braga acompanhou 4993 utentes por suspeita ou problemas auditivos e atribuiu 333 próteses auditivas, quando em 2022 tinham sido 248.
É preciso consciencializar a população mais envelhecida
A responsável assume que no caso dos idosos, a maioria “desvaloriza a perda auditiva”.
“Acaba por ser alvo [deste rastreio] a parte mais idosa. As pessoas mais idosas acham que é do envelhecimento e acham que é normal. A senhora que tivemos anteriormente tem uma perda já muito grande e acha que é normal porque já tem uma idade, e se já não anda tão bem também não ouve tão bem, é a justificação que ela dá. Por isso é que em termos de consciencialização estamos um pouco voltados para os idosos para que eles façam a prevenção”, começa por esclarecer.
Vanessa Machado refere que quando há solução médica ou cirúrgica esse é o primeiro passo. “Quando não dá, passamos para a reabilitação e o Hospital dá o aparelho auditivo [mediante avaliação de rendimentos do agregado familiar]”.
Em conversa com a RUM, a responsável explica que muitos doentes que ouvem mal não relatam a situação ao médico de família e a atenção é sobretudo feita pelo médico que, se apercebe de alguma dificuldade auditiva, reencaminha para consulta de especialidade no Hospital de referência. Vanessa Machado insiste que a perda auditiva “às vezes é desvalorizada” e fala até em “preconceito”. “Os idosos muitas vezes acham que é normal e isto tira qualidade de vida. Os nossos idosos muitas vezes estão isolados por não conseguirem ouvir. E muitas vezes conseguimos reabilitar e garantir muito melhor qualidade de vida”, esclarece.
“Muitas das pessoas ainda não têm bem a consciência do que é o Serviço Nacional de Saúde”, diz utente que participou no rastreio auditivo
Tinoco Marques, de 70 anos, inscreveu-se para realizar o rastreio auditivo depois de ter conhecimento da iniciativa pela comunicação social local. Ainda que já tenha realizado há dois anos um conjunto de exames que não identificaram um problema de maior decidiu inscrever-se por considerar que já não ouve como antes. “Comecei a notar alguma diferença na audição”, disse à RUM.
Assumindo-se um verdadeiro defensor do Serviço Nacional de Saúde (SNS), salienta que estas iniciativas sem custos para os utentes “são boas para e de aproveitar”, além de se tratar de um exame “muito simples e rápido”. “Muitas das pessoas ainda não têm bem a consciência do que é o Serviço Nacional de Saúde. Quando estamos atrapalhados onde vimos é aqui e não a outro lado. Aproveitem porque estas coisas se são apanhadas no princípio têm muitas vezes solução”, defendeu.
