“Há pressões sobre a liberdade dos jornalistas, mas no essencial existe liberdade”

“Há pressões sobre a liberdade dos jornalistas, mas no essencial existe liberdade”. A opinião foi partilhada por José Pacheco Pereira, esta quarta-feira, no Congresso da Sopcom – Associação Portuguesa de Ciências da Comunicação -, que se realiza até sexta-feira, na Universidade do Minho.

O cronista juntou-se a Joaquim Furtado, num debate sobre as implicações da liberdade 50 anos depois da Revolução de Abril. “A palavra liberdade, no dicionário, significa o mesmo para todos, mas, na verdade, não significa. Eu começo por pensar na liberdade que não havia (antes da revolução de Abril), coisa que os mais jovens não podem pensar”, recordou o jornalista. Depois do 25 de Abril de 1974, acrescentou, “os jornalistas aprenderam a tratar um comunicado, a fazer reportagens de manifestações, entrevistas a que não estavam habituados e diretos, que eram novidade em matéria política”.

Colaborador regular em órgãos de comunicação social, Pacheco Pereira apelou para que “não se deixe voltar a censura, quer à direita, quer à esquerda”. A pressão que admite existir no jornalismo não surge “apenas de fora”, denotou. “Há também um papel que tem que ser discutido, que são as ideias dominantes entre jornalistas, coisas que circulam e que, depois, o mecanismo do rebanho reproduz. São formas de empobrecimento da informação”, afirmou Pacheco Pereira. Recordando o dia em que eclodiu o “caso Galamba” foi “negro para a história do jornalismo e devia ser estudado nas escolas de comunicação, porque não é jornalismo”.


As críticas à classe são também apontadas por Joaquim Furtado, que responsabiliza os jornalistas em algumas situações: “quando misturam factos com opiniões, quando não fazem um cordão de segurança entre entretenimento e jornalismo, quando citam as redes sociais, substituindo-se a elas e não fazendo a distinção que deve ser feita, quando não citam as fontes, sendo a regra citar, quando reclamam exclusivos por coisas ridículas”.

Joaquim Furtado sugere que se olhe para “o código deontológico e se veja o que está a ser cumprido”.

“Voltar às bases e retomar às regressas essenciais poderia ser positivo, mas eu estou muito pessimista em relação ao futuro”, denotou.

José Pacheco Pereira lamentou ainda que, hoje em dia, “a cobertura seja toda igual, por falta de imaginação e por causa da experiência social dos jornalistas, que leem pouco e os impede de ver coisas que são relevantes, transformando tudo em coisas iguais”.

O jornalista, que foi diretor de programação da RTP, evidenciou ainda a “discrepância entre os meios tecnológicos e a possibilidade de os usarem no dia-a-dia, porque não têm meios financeiros para o fazer”. “Um jornalista hoje trabalha com o diretor de marketing a espreitar por cima do ombro”, disse ainda.

“A Democracia depende do jornalismo livre e este deve ser apoiado, nem que seja provisoriamente”

A crise no grupo Global Media, que tem suscitado a discussão sobre formas de financiamento do jornalismo, foi também um assunto abordado na conversa moderada pela professora da Universidade do Minho, Felisbela Lopes. Pacheco Pereira não tem dúvidas de que o jornalismo “é fundamental na Democracia” e aponta à intervenção do Estado, desde que tal não interfira na “garantia da autonomia de quem decide esses apoios, que não pode ser o Governo, nem os partidos”. “Não sou contra a criação de um fundo genérico para apoiar o jornalismo em dificuldades, mas a principal preocupação é quem controla esse fundo”, frisou, lamentando que a “comunicação social seja pouco critica em relação à informação que recebe”.

Joaquim Furtado deu bons exemplos, como o Fumaça ou o Gerador, “que estão a encontrar soluções” para garantir a sobrevivência. “Eu acho que a Democracia depende do jornalismo livre e este deve ser apoiado, nem que seja provisoriamente, até novas condições”. “Não há dinheiro para fazer reportagens sobre assuntos que se resolvem numa mesa redonda, com pessoas que provavelmente não são remuneradas, e isso é um constrangimento. Há muito a noção do espetáculo”, apontou. O jornalista lembrou ainda que na altura em que exercia a classe foi forçada a encontrar “mecanismos de regulação, como os conselhos de redação ou livros de estilo”, que, entretanto, “foram desaparecendo”. 

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Liliana Oliveira
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