Pandemia levantou várias questões éticas mas pode ser encarada como “oportunidade”

A pandemia provocada pelo novo coronavírus veio levantar várias questões éticas a diferentes níveis, mas pode também ser encarada como uma oportunidade.

No Fórum de Ética, promovido pelo Conselho de Ética da Universidade do Minho (CEUMinho), o tema debatido foi precisamente a “Ética em tempo de pandemia”.

Ao nível ambiental, o investigador e professor aposentado da Universidade de Coimbra, Jorge Paiva, alertou para o facto de “num espaço de menos de 500 metros ter encontrado 13 máscaras no chão”. Para o também membro do CEUMinho, a pandemia ainda não foi controlada, em parte, devido à “falta de civismo” das pessoas a nível global. Por mês, estamos a descartar 129 biliões de máscaras no meio ambiente.

Lucília Nunes é vice-presidente do Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida e considera que “a pandemia mudou, nas organizações dos serviços de saúde, a maneira como as equipas trabalham, além de que visualizou a necessidade de apoio e entreajuda nas comunidades”. “Olhando para esta perspectiva, a pandemia pode vir a ser pensada como uma oportunidade de rever a maneira como se trabalha e da humanidade poder crescer como humanidade”, acrescentou. Para Lucília Nunes, “podemos ser todos convocados à ética da responsabilidade e solidariedade”.

“Princípio da liberdade individual tem que estar muito presente quando temos que tomar decisões”

Pedro Morgado, professor da Escola de Medicina da UMinho, frisou alguns dos desafios com os quais se confrontou ao longo deste tempo atípico, entre eles “a preocupação de recolher informação que permitisse tomar medidas cientificamente informadas”. Além disso, acrescentou, surgem muitos “princípios em conflito”. “O princípio da liberdade individual tem que estar muito presente quando temos que tomar decisões, assim como o impacto das medidas sobre os mais vulneráveis, sendo necessário um equilíbrio das pessoas que estão muito assustadas e queriam que fechasse tudo e as pessoas que gostavam que não houvesse nenhuma medida para usufruir da liberdade. É um desafio importante que passsa pela boa comunicação”, apontou.

O docente da academia minhota fez questão de mencionar alguns “pincípios que se têm respeitado na UMinho”, nomeadamente “o princípio da beneficiência, fazer bem a quem precisa na UMinho, mas também fazer bem a quem tem que ser protegido”. “A obrigação de não fazer mal, de não privar as pessoas do que lhes é essencial e de não as expor de forma agressiva ao que lhes pode ser prejudicial. A justiça e a autonomia, percebendo até onde podemos impor medidas e a partir de onde devemos deixar ao arbítrio de cada um a escolha do caminho que é melhor para todos” são outros aspectos que têm sido respeitados, acrescentou.

Alexandra Miranda é médica no Hospital de Braga e apelou, na sessão, à “racionalização do medo e do pânico”, para que não se tornem “ameaçadores ao comprometerem a qualidade dos cuidados de saúde prestados”. “Os doentes infectados ou suspeitos merecem os mesmos cuidados de saúde do que qualquer outro doente”, alertou a médica, referindo que alguns profissionais de saúde trabalham ainda “assustados” com a pandemia. 


Fórum é “particularmente importante pela possibilidade de aí serem derivados princípios orientadores para a actuação de todos”

Na sessão de abertura, o reitor da UMinho relembrou o recente acontecimento protagonizado por um grupo de estudantesda academia, que publicou um vídeo em que os alunos aparecem com um pintura facial conhecida como ‘blackface’. Rui Vieira de Castro frisou que este deve ser “um episódio que vem lembrar a necessidade” de construir “um novo modo de agir congruente com os princípios éticos da universidade”. “É nesta medida que se torna visível a relevância do Conselho de Ético da UMinho”, afirmou o reitor, considerando o Fórum “particularmente importante pela possibilidade de aí serem derivados princípios orientadores para a actuação de todos nas diferentes dimensões da instituição”.

Graciete Dias, presidente do CEUMinho, lembrou a recente “revisão do código de conduta ética da universidade, que disponibiliza a toda a comundiade académica uma linha de actuação ética”. 

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Liliana Oliveira
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