“Foi dos melhores livros do ano quando saiu em Portugal”
A romancista francesa Annie Ernaux, de 82 anos, foi laureada com o Prémio Nobel da Literatura de 2022, esta quinta-feira. A escritora, que nasceu em 1940 e cresceu em Yvetot, na Normandia, onde os pais geriam uma mercearia e café, é 17.ª mulher Nobel da Literatura entre os 119 laureados da história do prémio, em 121 anos.
Em 48 anos de escrita, Annie Ernaux publicou mais de 30 obras. Em Portugal tem cinco títulos editados, entre os quais, ‘Os Anos’, ‘O Lugar’ e ‘Uma Paixão Simples’, que António Ferreira, autor do programa ‘Livros com RUM, destaca.
Sobre ‘Os Anos’, considera ser “uma grande obra”. “É um testemunho vindo da escrita francesa muito raro, não direi que foi o melhor livro do ano, mas foi dos melhores livros do ano quando saiu em Portugal. Aí realmente percebeu-se que Annie Ernaux é uma excelente escritora”, afirma.
António Ferreira evidencia a importância das traduções das obras. “Annie Ernaux teve a sorte de ter bons tradutores, que nos podem fazer chegar o livro como ela imaginou”, sublinha. “É uma escritora dotada neste aspeto, é limpa, escarnada, o que lá está escrito é o que ela pretendeu dizer, dá aso à existência do leitor para interpretar e se situar naquele mundo”, começa por dizer. “Faz um retrato cru, de peito aberto, com toda a coragem de um tempo, de uma vivência, neste caso de uma mulher sem complexos, sem medo, porque não tem nada a esconder”, acrescenta.
O também autor do ‘Leitura em Dia’, recomenda o livro ‘O Lugar’, que, no seu entender, “vai marcar sempre a escrita de Annie Ernaux”. “É um livro sobre um senhor, um trabalhador, um homem simples da província francesa, que deposita todas as suas expectativas numa filha. É fácil perceber a projeção, a ascensão social, cultural, intelectual, económica, tudo aquilo está presente. É um livro maravilhoso”, afirma.
