Familiares de pessoas com doença mental desconhecem Estatuto do Cuidador Informal

A quase totalidade dos cuidadores de cidadãos que sofrem de doença psiquiátrica não sabe da existência do Estatuto do Cuidador Informal e mais de 60% revela não conhecer qualquer apoio. Estes são alguns dados de um estudo preliminar apresentado esta sexta-feira pela FamiliarMente – Federação das Associações das Famílias de Pessoas com Experiência de Doença Mental, numa sessão que contou com a presença da diretora da DGS e da ministra da Saúde.

Aprovado em setembro de 2019 na Assembleia da República, o conjunto de normas que regula os direitos e deveres do cuidador e da pessoa cuidada e estabelece as respetivas medidas de apoio entrou em vigor em abril do ano passado.

No entanto, Pedro Morgado, responsável pela investigação, alerta que “ainda há um longo trabalho a fazer no sentido de dar mais informação e apoio às famílias e cuidadores dos doentes”. Mais de 25% dos inquiridos que cuidam de pessoas com doença mental estão aposentados por limite de idade e 8% encontram-se reformados por invalidez. 


De acordo com o docente da Universidade do Minho, o estudo pretendeu “avaliar qual a carga e o custo da doença psiquiátrica”. Pedro Morgado afirma que existe “um claro aumento do desgaste e dos sinais de ansiedade”. Praticamente nove em cada dez cuidadores sente cansaço ou desgaste físico pelo menos algumas vezes, sendo que um terço apresenta sinais de ansiedade ou depressão de forma recorrente. 


Do ponto de vista socioeconómico, os rendimentos do agregado familiar, principalmente atendendo a despesas acrescidas em saúde, também tem um impacto na qualidade de vida dos pacientes e dos próprios cuidadores. Um dos fatores distintivos é a elevada percentagem – 57,6% da amostra – com rendimentos do agregado abaixo dos 1.500 euros, estando mais de um terço dos inquiridos com rendimentos abaixo dos 1.000 euros. Para o psiquiatra, “a existência de poucas ofertas de emprego” para as pessoas com doença mental ajudam a explicar esses números.



Especialista alerta para cenário “preocupante”

Durante a pandemia, a maioria das pessoas manteve o plano de tratamento e o acesso aos cuidados de saúde mental, embora grande parte tenha visto as atividades de ocupação regular interrompidas. Segundo a investigação exploratória, dois terços dos inquiridos não participam em qualquer atividade cultural ou de cariz semelhante. Além disso, o estudo mostra que mais de um quarto dos doentes não pode estar sozinho na maior parte das vezes.

O trabalho contou com uma amostra de 125 inquiridos de vários pontos do país, sendo equitativo em termos de género. Participaram associados da FamiliarMente, o que, para Pedro Morgado, pode contribuir para um cenário “mais positivo” em relação ao que acontece na realidade.

“As pessoas que responderam a este inquérito, como estão ligadas ao associativismo, terão uma maior apetência para estarem informadas. Isso [os números já conhecidos] acaba por ser preocupante”, refere, adiantando que o objetivo passa agora por “aumentar a amostra e a representativade”.

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Tiago Barquinha
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