“Extrema-direita é particularmente hábil a explorar novas potencialidades tecnológicas”

“Os partidos de extrema-direita foram particularmente hábeis a explorar aquilo que eram as novas potencialidades tecnológicas e propagandísticas do seu tempo”. A premissa é defendida pelo professor do Departamento de História do Instituto de Ciências Sociais (ICS), Bruno Madeira, em entrevista ao UMinho I&D.
Nestas eleições Legislativas antecipadas foi evidente a aposta, por parte dos partidos, em diferentes tipos de redes sociais. Uma escolha que está, de certa forma dependente, do público alvo da mensagem.
O investigador diz não estar surpreso com o crescimento da extrema-direita em redes como o ´TikTok`, visto que desde o período entre guerras até aos dias de hoje, estes partidos “são mestres na arte da política de massas e na utilização daquilo que é a própria cenografia associada à propaganda política”. Para o docente, “o que nós vemos hoje é exatamente o mesmo fenómeno”, só que usando um “megafone muito maior que é o das redes sociais”.
Questionado sobre se considera que existiu, por parte do líder do Chega, uma moderação durante a campanha e debates na agressividade, de modo a chegar a um maior eleitorado, Bruno Madeira acredita que sim, sendo que os ideais passam para um círculo mais fechado.
“Há uma tentativa não de moderação dos princípios, porque eles estão todos inscritos no programa, mas sobretudo naquilo que é dito publicamente e, sobretudo, na forma como é dita”, adianta. “Se nós pensarmos naquilo que foi a campanha, por exemplo, de André Ventura para as Presidenciais de 2021, a agressividade dele nos debates não é igual. Isto tem que ver com uma mudança, que não sei se é de época, não sei se é meramente conjuntural, em que quer o Chega, quer a Iniciativa Liberal, quer o PSD, quer o CDS/PP, compreendem que este é o momento histórico da direita e, portanto, querem chegar o mais depressa possível ao poder”, comenta.
Em junho, Portugal volta às urnas, desta vez para o Parlamento Europeu. Para Bruno Madeira os resultados não devem ser extrapolados para caracterizar um qualquer fenómeno europeu.
“As eleições europeias não deixam de ser sintomáticas daquilo que são as realidades nacionais e não deixam de ser eleições travadas a nível nacional e, portanto, acabam por espelhar aquilo que são o momento de cada um dos partidos”, frisa.
O investigador alerta também para o facto de a extrema-direita, que deverá crescer nestas eleições, não estar unida no Parlamento, a título de exemplo, em relação à questão da Ucrânia e da Rússia.
Bruno Madeira fala ainda dá questão de adoração dos líderes, além da identificação com as propostas apresentadas pelos vários partidos. “Se olharmos para aquilo que é a expressão nas redes sociais dos apoiantes de Trump ou Bolsonaro, em muitos casos estamos já a falar quase de um culto, em torno dessas figuras”, refere.
