Estudo da UMinho abre caminho para a redução de infeções intestinais

Uma equipa do Centro de Biologia Molecular e Ambiental (CBMA) da Universidade do Minho (UMinho) descobriu como um fungo se alimenta quando o intestino está fragilizado, o que pode abrir portas para o bloquear e reduzir as infeções. O estudo foi publicado esta terça-feira na revista da Sociedade Americana de Microbiologia.
O trabalho foi financiado pelo projeto MetaFungal (Fundação para a Ciência e a Tecnologia) e tem a coautoria de cientistas das universidades Católica de Lovaina, na Bélgica, e de Exeter, em Inglaterra. A pesquisa analisou o trato gastrointestinal (intestino delgado, ceco, cólon) e as fezes de ratinhos tratados com antibióticos. Aos microfones da RUM, a primeira autora do estudo, Rosana Alves, revela que este trabalho surgiu no âmbito do doutoramento que realizou na Universidade do Minho.
O estudo identificou “uma família de genes que estão envolvidos no transporte do nutriente” e o fungo Candida albicans, que vive no nosso corpo, possui 10 genes ATO que lhe dão vantagem para a sobrevivência e expansão nesse ambiente desafiante, contra dois ou três genes que existem normalmente nos outros organismos. “Tentamos perceber o porquê desta família estar tão expandida e qual o seu papel”, refere.
Após o tratamento com antibióticos, muitas bactérias presentes no intestino são eliminadas ou significativamente reduzidas, o que não acontece com esta família que possui, segundo a investigadora, capacidade de “adaptação” e diferente tipo de “colonização no trato gastrointestinal”.
As infeções por Candida mais frequentes surgem no sistema digestivo, respiratório, nos genitais e nas dobras da pele. Em pacientes com imunidade baixa, aponta a coordenadora do estudo Sandra Paiva, que também é vice-reitora para a Investigação e Inovação e professora do Departamento de Biologia da Escola de Ciências da UMinho, este fungo pode entrar na corrente sanguínea, infetando órgãos internos e provocando candidíase invasiva, que afeta cerca de 1,5 milhões de doentes por ano, sendo que perto de 63% dos pacientes acaba por morrer. O que não acontece com “indivíduos saudáveis”, sublinha Rosana Alves.
Segundo a investigadora, esta descoberta é fundamental para o desenvolvimento de novos antifúngicos “mais eficazes” para o combate da infeção. O próximo passo, aponta a coordenadora do projeto é verificar se há alguma empresa interessada em “explorar algum papel destes transportadores como antifúngicos” no trato terapêutico, além de “estudar em maior detalhe como é que estes organismos são regulados”, revela Sandra Paiva.
A responsável acrescenta que esta descoberta só foi possível pela estrutura de “referência internacional” existente na Universidade que permitiu “estabelecer colaborações com os melhores grupos estrangeiros nesta área de biologia”.
