Ensino Superior deve valorizar  pensamento crítico e definir prioridades

O Ensino Superior está a perder espaço para pensamento crítico devido à pressão da empregabilidade. Esta foi uma das ideias defendidas por Olga Pombo, da Universidade de Lisboa, no debate promovido pela Escola de Engenharia, sobre “Estratégias para o Futuro do Ensino Superior”.

A docente de Filosofia lamentou que as instituições de Ensino Superior estejam a deixar o pensamento critico para trás. Olga Pombo dá como exemplo as opções das universidades em relação aos cursos que abrem: “são os cursos que têm maior empregabilidade”. “O pensamento crítico fica para trás, porque depois não há tempo. Agora põe-se o problema da formação superior”, acrescentou. A professora referiu ainda que “uma formação não se limita a uma profissão, não se ensinam profissões”, porque “a profissão tem a ver com o saber fazer, tem que ser ganho por cada um”.

A docente acredita que “a Universidade vai acompanhar o desenvolvimento da Ciência e cada vez que há grandes transformações na Ciência, há grandes transformações na Universidade”.

Na sessão esteve ainda Alexandre Quintanilha. O professor da Universidade do Porto acredita que “a maioria dos desafios exige diálogo entre áreas diferentes do conhecimento”. “A pessoa tem que conhecer a linguagem do outro e, muitas vezes, as pessoas estão tão especializadas numa determinada área que nem fazem esforço para transformar o que fazem em qualquer coisa que possa ser dialogada com outra pessoa”, acrescentou.

Com formação na área da Física e nas Ciências, Alexandre Quintanilha acredita que é preciso chamar “outras áreas do conhecimento para avaliar onde se deve investir”. “A ideia inicial de Universidade é que devíamos seguir os nossos sonhos e, hoje em dia, isso é cada vez mais difícil, porque muita da investigação feita é muito cara e, às vezes, necessária para resolver problemas sérios, por isso, temos que tomar decisões”, referiu ainda.

Os desafios “cada vez mais complexos” implicam a capacidade de “decidir as prioridades” e, por consequência, “investimentos, porque não há prioridades sem investimentos, na procura de conhecimento relevante e da sua utilização prudente”. Para Alexandre Quintanilha “a chave é o relevante e o prudente”. “Temos que valorizar no ensino superior, mas não só, a capacidade de pensamento crítico e de autoconfiança lúcida. Tudo coisas difíceis, coisas que levam muito tempo e que nós sabemos que, na grande maioria dos casos, não acontece”, finalizou.

Entre os desafios que se colocam a este nível de ensino, foi também mencionada a aceleração tecnológica, que pressiona ainda mais a formação rápida e utilitária, reduzindo tempo para reflexão

Ao longo de mais de duas horas, no auditório do CCG, no campus de Azurém, Alexandre Quintanilha e Olga Pombo partilharam a sua visão sobre o Ensino Superior e os desafios que o confrontam, numa conversa moderada pelo professor da UMinho Luís António Santos.

Transmitir conhecimento atual e atualizado, treinar competências e ferramentas usadas na produção desse conhecimento, promover diálogo entre áreas distintas, desenvolver discernimento e pensamento crítico, formar profissionais competentes, promover responsabilidade pessoal, social, ambiental e política e construir autoconfiança lúcida e não arrogante foram alguns dos temas abordados.

Os desafios que se colocam à sociedade necessitam, no entender dos intervenientes, de uma procura de conhecimento relevante, que deve ser usado com prudência. Deve ainda valorizar o pensamento crítico, capacidade de questionar, discernimento e autoconfiança lúcida.

O futuro do ensino superior foi tema de um debate promovido pela Escola de Engenharia, uma iniciativa integrada nas comemorações do cinquentenário desta unidade orgânica. 

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Liliana Oliveira
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