Eleições em França. Cenário dos próximos dias vai ser “bastante intenso”

José Palmeira descreve o cenário dos próximos dias como “bastante intenso”. “Ao mesmo tempo que a França organiza os Jogos Olímpicos, convém lembrar, que o país está numa situação económica e financeira difícil, não está a cumprir as regras europeias em matéria de défice e de dívida pública e o contexto internacional é também bastante incerto”, admite, referindo-se à guerra na Ucrânia, ao conflito em Gaza e às eleições norte americanas em novembro.

O especialista acrescenta que “a França, certamente, estará a ser pressionada para que consiga gerar um governo capaz de cumprir com os objetivos em matéria de política interna e também as questões de política internacional”.

A aliança de esquerda Nova Frente Popular, uma coligação formada à última hora por socialistas, comunistas, verdes e o partido esquerdista La France Insoumise, venceu as eleições legislativas francesas, à frente da coligação do presidente Emmanuel Macron e da extrema-direita. Na segunda volta das eleições, nenhum dos três blocos obteve a maioria.

“De facto, o resultado eleitoral contrariou aquilo que eram as previsões baseadas em sondagens que indicavam que a extrema-direita deveria ser o bloco político mais votado. Não só isso não aconteceu, como foi o bloco à esquerda que recebeu mais apoio eleitoral”, diz à RUM o especialista em ciência política, José Palmeira.

Na primeira volta, a 30 de junho, a União Nacional (RN), partido de extrema-direita de Marine Le Pen, conseguiu vencer, pela primeira vez, as eleições legislativas, ao obter 33,1% dos votos e quase duplicar o seu apoio desde que a França elegeu a sua Assembleia Nacional pela última vez, em 2022.

“Em termos de governabilidade a situação não é fácil, na medida em que o bloco que ganhou as eleições ainda não tem, neste momento, um candidato a primeiro-ministro”, refere José Palmeira. Na Nova Frente Popular, “haverá alguma dificuldade em obter apoio para formar governo, na medida em que os moderados não aceitam de maneira nenhuma que a França Insubmissa tenha um papel liderante em França”, reitera.

O docente da Universidade do Minho prevê que as negociações comecem entre “os moderados de Macron” e “os mais moderados dentro da frente de esquerda”, no sentido de obter uma solução governativa que dê estabilidade ao país.

O sistema de governo é semipresidencialista, o que significa que o Presidente da República tem poderes “significativos”. “É verdade que é possível uma situação de coabitação, em que o governo tem uma cor política diferente da do Presidente. Macron vai tentar tirar algum benefício do facto de nenhum dos três blocos ser maioritário e, portanto, ser necessário um entendimento com o bloco dos centristas para que haja uma solução de governo”, explica.

Mas que nomes existem para papel de primeiro ministro? No campo da esquerda, José Palmeira aponta para o próprio antigo presidente francês, François Hollande, que foi eleito deputado este domingo. Por outro lado, a líder dos ecologistas, Marine Tondelier, é outra personalidade que “também será capaz de criar algumas pontes com o centro”.

A mudança da primeira para a segunda volta

“Costuma-se dizer que na primeira volta se vota com o coração. É um voto mais livre, em que a tendência é para se votar no partido da sua preferência e, por outro lado, o leque de escolha é muito mais vasto”, refere. “Na segunda volta, só passam os candidatos que conseguem atingir um mínimo de 12,5%, o que significa que passam normalmente três, no máximo quatro”, acrescenta.

José Palmeira adiciona ainda que “há quem diga que este sistema eleitoral maioritário de duas voltas foi criado precisamente para dificultar a vida aos candidatos extremistas. O que aconteceu foi uma concentração de votos no candidato que se opunha ao da extrema-direita. E, portanto, isso permitiu este resultado eleitoral”.

Com o partido de extrema-esquerda em primeiro, o que até agora funcionou como voto estratégico na segunda volta para impedir a vitória da extrema-direita, vai dificultar a criação de uma solução governativa que envolva todos os partidos.

Em conclusão, José Palmeira acredita ser preferível a existência de “alternativas à esquerda e à direita” e que “o governo, mais centrista, seja julgado em função daquilo que for capaz ou não de fazer no plano interno e externo”.

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Maria Carvalho
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