“É como se toda a nossa vida estivesse no telemóvel”. Estudantes refletiram sobre a dependência digital

Rafael, Rita e Maria são três estudantes da Escola Secundária D. Maria II que participaram, esta quinta-feira, no evento comunitário “Prevenção do Uso Problemático da Internet”, no Centro da Juventude de Braga. A iniciativa, que envolveu alunos, pais e professores, foi promovida por quatro psicólogos com o objetivo de alertar para os efeitos do uso excessivo da internet e redes sociais nos jovens.

Rafael Sousa, de 16 anos, foi direto ao problema. “O telemóvel é um vício, um problema. Já tinha consciência disso, mas hoje aprendi mais sobre como impor barreiras”, apontou. Apesar de já ter reduzido o tempo de ecrã para cerca de duas a três horas por dia, reconhece que a pressão social associada às redes sociais torna o desapego difícil. “Parece que toda a nossa vida está no telemóvel. Quem não está online, está quase socialmente excluído”, referiu, acrescentando que o apagão de 28 de abril foi uma experiência transformadora. “Precisamos mais disso. Senti-me muito confortável por saber que não fui só eu a largar o telemóvel durante algum tempo”, admitiu. 


Rita Pereira, de 18 anos, partilhou uma experiência transformadora. Durante umas férias de verão, apercebeu-se que passava cerca de 8 horas por dia ao telemóvel, o mesmo que passava a dormir. “Percebi que isso estava a ser preocupante. Decidi ajudar a minha tia no restaurante dela e aprendi imenso: desde fazer sobremesas a lidar com pessoas no trabalho.” Hoje, reduziu o tempo de ecrã para menos de metade e aconselha outros estudantes a arranjar outras ocupações nas férias. “Cada adolescente devia trabalhar no verão pelo menos um mês. Aprendi a dar valor ao dinheiro. Comprei o meu primeiro telemóvel, compro a roupa que eu quero, se fosse com o dinheiro dos meus pais seria diferente”, assumiu. 


Maria Vasconcelos, 17 anos, tomou medidas concretas para travar a dependência das redes sociais, especialmente do TikTok. “Pus limites de tempo nas aplicações e dei o código à minha mãe. Sozinha não funcionava.” Para Maria, a principal consequência do uso excessivo é a ansiedade e a perda de concentração. “Mesmo que esteja pouco tempo, aquele conteúdo rápido cria ansiedade. Senti que as minhas notas começaram a ser afetadas”, referiu. Da palestra a que assistiu, levou outros conselhos práticos, como deixar o telemóvel noutra divisão da casa enquanto estuda. 

A psicóloga da escola D. Maria II, Telma Leite, realça que este evento foi o culminar de um trabalho que já decorre na escola há algum tempo. “Percebemos que, ao escutar os alunos e envolvê-los nas decisões, conseguimos melhores resultados”, explicou. 


A escola criou um regulamento específico para o uso do telemóvel, co-construído com os estudantes. Até ao 9.º ano, a utilização é proibida em contexto escolar. No D. Maria II, existem restrições em vários espaços, com algumas zonas livres.

A importância da regulação externa foi também sublinhada por José Gomes, pai de um estudante de 16 anos, que partilhou o desafio de lidar com o uso excessivo da tecnologia em casa. “Ele não consegue ir ao frigorífico sem levar o iPad. Já chegou a fechar a porta com o iPad lá dentro”, contou.

O pai sublinha a dificuldade em impor limites, reforçando a necessidade de os jovens tomarem consciência por si próprios. “Eles têm de chegar às suas próprias conclusões. Nós podemos orientar, mas a mudança tem de partir deles”. Com as férias de verão a aproximarem-se, mostra-se especialmente preocupado com o tempo livre prolongado e já pondera alternativas como o desporto ou atividades escolares que ajudem a afastar o filho dos ecrãs. “São três meses de férias, é muito tempo. Precisamos de criar condições fora do ecrã que os motivem”, vincou. 


O evento, que decorreu durante todo o dia, incluiu palestras, debates e atividades artísticas, como um teatro desenvolvido pelos próprios alunos, que abordou diferentes formas de dependência tecnológica. Uma jornada de consciencialização para fomentar o pensamento crítico e promover hábitos digitais mais saudáveis entre os jovens.

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Ariana Azevedo
Ariana Azevedo

Jornalista na RUM

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