Do Teqball às defesas em cima da linha. Lukás Hornícek, o muro que quer ser campeão nacional com o SC Braga

Lukáš Horníček tem 23 anos, é guarda-redes do Sporting Clube de Braga e internacional sub-21 pela Chéquia. Chegou a Braga ainda adolescente, cresceu nos escalões de formação e hoje é dono da baliza arsenalista, já com exibições decisivas em jogos nacionais e europeus. É um dos rostos da nova geração do clube e também um dos capitães de equipa.
Em conversa exclusiva com a RUM, falou sobre o momento da equipa, a vitória frente ao Feyenoord, a adaptação ao papel de titular, o trabalho diário com os colegas de baliza, a ligação à formação bracarense e os seus objetivos para o futuro.
A entrevista surge no âmbito da nova campanha de adesão do SC Braga destinada aos estudantes da Universidade do Minho, que podem tornar-se sócios por cinco euros até 30 de novembro. Este domingo, frente ao CD Nacional, disputa-se o ‘Jogo do Estudante’, que reforça a ligação entre o clube e a academia minhota.
Comecemos pelo jogo com o Feyenoord. Foi uma vitória importante para a equipa, depois de uma sequência de resultados menos positivos. Sentiram esse jogo como um balão de oxigénio?
Claro que sim. Acho que chegámos numa altura em que fomos demasiado penalizados por pequenos erros e não fizemos bons resultados. Este jogo mostrou que somos uma equipa capaz de competir, que quer lutar para estar lá em cima, e que é capaz de ganhar a uma equipa como o Feyenoord.
Como é que sentiste a equipa depois dessa exibição? Que impacto teve essa vitória no balneário?
Ficamos muito entusiasmados. Quando o árbitro apitou, toda a gente começou a correr e a festejar. Foi um momento muito bonito para todos nós. Agora é dar mais um passo e seguir neste caminho.
A saída do Matheus abriu espaço na baliza. Sentiste que já estavas preparado há mais tempo para este palco principal?
Acho que tudo aconteceu no tempo certo. Se tivesse acontecido mais, talvez não estivesse tão preparado. Agora senti-me capaz de assumir a posição e lidar com a responsabilidade. O meu papel é simples: defender a baliza e ajudar a equipa.
Ainda és jovem, mas já tinhas aparecido a espaços na Taça da Liga e na Taça de Portugal. Foi difícil esperar pela oportunidade?
Digamos que sim, porque não sou uma pessoa muito paciente. Queria jogar e mostrar o meu valor. Mas fico feliz com o caminho que escolhi. Agora só estou a aproveitar o momento.
Que detalhe do teu jogo mais mudou para dares este salto?
Não foi tanto no jogo, foi no treino. Houve uma fase em que não estava 100% focado, desliguei muito durante o treino e foi difícil ligar outra vez.
Foi mais uma questão de mentalidade?
Sim. A mentalidade, na posição de guarda-redes, é fundamental. Quando mudei esse chip, senti um crescimento enorme.
Já usaste a braçadeira de capitão esta temporada, em Alverca. Como é que essa responsabilidade se traduz em campo?
Não sinto nenhuma diferença. Para mim não mudou muito. Foi mais um elogio do míster. Tenho de fazer sempre o mesmo. Claro que com a braçadeira tenho de ser mais responsável e dar o exemplo aos miúdos e ao resto da equipa.
O sistema do Carlos Vicens alterna entre linha de quatro e de três centrais. O que muda para ti nessas duas estruturas?
Para mim não muda tanto. Quando posso entro na linha de quatro para termos mais um homem a ajudar a equipa a ter bola. É um sistema muito moderno, de que eu gosto, estamos a criar oportunidades que todos nós e os adeptos querem. É só confiar no processo e confiar no que é pedido.
Mas preferes ter dois ou três centrais à tua frente?
Sinceramente não há muita diferença. Abre um pouco mais de espaço com a linha de quatro mas, da forma que estamos a jogar cobrimos bem esse espaço, não sinto grande diferença.
Mas com três centrais tens sofrido menos golos…
Não tinha visto isso, estou surpreendido. Se calhar vou falar com o mister a ver o que podemos fazer com isto (risos).
Ainda é cedo, mas esta época está abaixo das expectativas?
Queríamos estar mais em cima, claro, mas é parte do processo. Fomos demasiado penalizados por erros pequenos. Mas agora, com a vitória frente ao Feyenoord e os últimos jogos, sinto que estamos num momento melhor. É desfrutar, fazer o que temos feito e continuar a dar ao pedal.
Estiveste nos escalões de formação do SC Braga. Como vês os jogadores que sobem agora à equipa A? Sentes que és uma referência para eles?
Não me vejo como exemplo, vejo-me como mais um jogador que trabalhou para estar aqui. Tive grandes treinadores e jogadores que me ajudaram. O meu alvo sempre foi a equipa principal, mas é uma escada a cada viagem.
Nenhum deles te pede conselhos?
O Romário, por exemplo [guarda-redes da equipa sub23] já me pediu conselhos. Os jovens têm fome de chegar à equipa principal e eu estou cá para ajudá-los.
E como é o teu trabalho diário com o Eduardo?
A nossa relação é difícil de explicar. Já partilhei balneário com ele como jogador. Agora como treinador mantém o mesmo espírito, mas com mais respeito da minha parte. É uma pessoa espetacular e gosto muito de trabalhar com ele.
E com os outros guarda-redes?
Somos uma união. Tentamos puxar uns pelos outros. Sabemos que podemos melhorar-nos uns aos outros. Se alguém vê um detalhe a corrigir, ajuda. Isso faz-nos evoluir todos os dias.
O que aprendeste com o Mateus e com o Tiago Sá?
Com o Mateus, o trabalho fora do campo: sempre o primeiro a chegar, o último a sair. Com o Tiago Sá, a paciência e o foco nos treinos. Dá sempre 100% nos treinos. É uma figura importante para mim.
Houve jogos em que foste fundamental: o Levski Sofia, o FC Alverca, o dérbi com o Vitória e o penalti defendido… Qual te marcou mais?
O Feyenoord, sem dúvida. Sabíamos que estavam em primeiro lugar na liga neerlandesa. Foi um jogo em que vi as minhas fragilidades, as defesas não tiveram a precisão que eu achava que tinha. São estes jogos que mostram o que tenho de trabalhar para me tornar o melhor.
Aquela defesa ao penalti em Guimarães foi estudada?
Tive sorte. O Nelson Oliveira foi companheiro de equipa do Eduardo. Ele disse-me “quando ele bate penáltis é sempre para o lado direito”. Tive uma ajudinha dele, vi um vídeo preparado pelo nosso staff e percebi a tendência.
O que preferes: defesa de instinto em cima da linha ou saída em profundidade?
Prefiro em cima da linha, ouvir o barulho da bancada. Sempre foi como um elogio para mim.
Qual foi o momento mais emocionante da tua carreira no Braga até agora?
O jogo contra o Boavista na época passada. Ganhámos 1-0, fiz boas defesas e senti que estava mais maduro, pronto para competir.
Já te sentes um guarda-redes completo?
Não. Acho que nunca vou sentir-me completo. É uma profissão em que nunca podes ser perfeito. Há sempre coisas a melhorar: força, reação, técnica.
O que mais queres melhorar?
Não sofrer golos (risos). Gostava de ter reflexos ainda mais rápidos. É natural, mas também dá para trabalhar.
Quem é o melhor guarda-redes da Liga?
Gosto muito do Diogo Costa. Fora do top 4, gosto muito do Andrew, do Gil Vicente.
Que papel têm o treino mental e a preparação fora de campo?
É muito importante. O trabalho não acaba no treino: há recuperação, alimentação, descanso. Tudo conta para estar a 100%.
Tens algum ritual antes dos jogos? És supersticioso?
Não sou muito. Quando jogamos em casa gosto de jogar Teqball com os meus companheiros para entrar no ritmo de jogo e aquecer um bocado. Quando jogamos fora costumo fazer exercícios de mobilidade.
Voltando atrás: tinhas 16, quase 17 anos, quando vieste para Braga. Como surgiu essa possibilidade?
Foi das decisões mais difíceis de tomar para ser jogador de futebol. Foi depois do Europeu sub-17. Perdi contra a França por 6-1, foi um jogo pesado, mas fiz muitas defesas, foram 20 remates contra nós. O SC Braga surgiu, era muito longe de casa mas havia um potencial excelente para mim e senti que podia ser feliz se escolhesse este caminho.
Foi difícil deixar a família? Arrependes-te de alguma coisa?
De nada. Eu sou extremamente feliz por ter escolhido este caminho. Acho que não poderia ser profissional de futebol se não chegasse aqui. O ambiente que tenho aqui ajudou-me no meu crescimento.
Na Chéquia há tradição forte no hóquei no gelo. O Petr Čech jogou hóquei, e o teu avô também, chegaste a contar que te fez as primeiras balizas em madeira. Alguma vez pensaste seguir outro caminho?
Sinceramente, nunca pensei em ser jogador profissional. Jogava por prazer. De jogar e melhorar. Só quando comecei a ter oportunidades na seleção percebi que podia ser este o meu caminho.
Quais foram os teus guarda-redes de referência?
Sempre gostei muito do De Gea. Também o Onana, no Ajax e no Inter. Mas o De Gea foi quem mais me marcou.
És titular nos sub-21. O que falta para chegares à seleção principal? Sentes que está cada vez mais perto?
Sim. Pelo crescimento e exigência no SC Braga, sinto que tenho tudo para ser convocado para a seleção. Temos de continuar a fazer bons resultados. Acredito que vai surgir naturalmente.
Recentemente foste colocado pelo Observatório de Futebol no top 10 guarda-redes fora das grandes ligas, com valor de mercado acima dos 10 milhões. Isso motiva-te?
Não penso muito nisso. O importante é a equipa. Tenho de os ajudar. O crescimento do meu valor vai surgir com os resultados. Continuo focado para ser a minha melhor versão.
E os rumores de mercado? É fácil abstraíres-te?
Foco-me no jogo a jogo. Não quero saber disso. O meu agente trata disso. Primeiro ele e o clube tratam, eu depois digo como me estou a sentir. É importante estar focado no jogo.
Tens contrato até 2028. Imaginas-te muitos anos no Braga? Há outra liga que queiras de experimentar?
Gostava de ficar aqui o máximo de tempo possível. O SC Braga é a minha primeira casa. Quero ficar aqui muito tempo. Mas claro que um dia gostava de jogar na Premier League ou na Liga Espanhola. É o sonho de qualquer jogador.
O que ainda queres festejar no SC Braga?
Já consegui muito, mas gostaria de ser campeão. Quero ser campeão nacional com o Braga. Gostava de escrever o meu nome nesse título. É um desafio.
Existe essa possibilidade a curto prazo?
Sim. Acredito que somos capazes de, já este ano, ser campeões. Só depende de nós próprios. Se encararmos os jogos como temos encarado os últimos três, quatro… Vamos ser muitos felizes e ter muitos pontos no final.
Nos próximos tempos vêm jogos exigentes: CD Nacional, Celtic, Sporting CP. Que SC Braga podemos esperar?
Vitórias. Só vitórias. Mais nada.
Que mensagem deixas aos adeptos nesta fase da época?
Que venham ver-nos a competir, a dar o nosso máximo, a ganhar todos os jogos por eles. São muito importantes para nós, é muito importante sentir o apoio deles em grande número nas bancadas.
