De Xangai para a UMinho. Aqui surgiu o sonho de ensinar português

Vítor Zhang, tem 25 anos, vem de Xangai e há dois anos que vive na cidade de Braga. Actualmente, está no segundo ano do mestrado em Estudos Internacionais Português/Chinês no Instituto de Letras e Ciências Humanas da Universidade do Minho.
Um curso que tem a particularidade de proporcionar aos estudantes internacionais a oportunidade de estudar em Portugal e os alunos portugueses a fazer o primeiro ano numa academia chinesa, sendo que no segundo ano as turmas são juntas na academia minhota.
Vítor teve um primeiro contacto com a capital, Lisboa, e de seguida rumaram a Coimbra. No entanto foi na cidade dos arcebispos que encontrou a felicidade, juntamente, com a namorada Érica.
“Quando estava a viver em Coimbra decidi viajar até Braga. Gostei muito da cidade porque é calma e isso faz-nos felizes”, afirma. Uma realidade totalmente distinta de Xangai que Vítor quer aproveitar ao máximo.
Neste percurso de seis anos de aprendizagem da língua de Camões os jovens revelam que foram os verbos e ditados populares os principais impasses. Habituados ao mandarim e inglês frisam que o português é uma língua mais complexa. Caso para dizer que “água mole em pedra dura tanto bate até que fura”.
“Para mim não faz sentido. Conheço todas as palavras mas, mesmo assim, não entendo. É sem dúvida uma dificuldade”, confessa.
Quando questionados sobre a razão que os levou a optar pelo português, Érica e Vítor enumeram motivos distintos. Ele por ser menos falado na região e dessa forma significar novas oportunidades no mundo do trabalho. E ela, apaixonada por história, devido ao papel dos portugueses em Macau. Para além da complexidade da língua o casal não esconde que a timidez, típica do povo chinês, pode ser um problema quando se está a aprender um novo idioma num novo país.
Do oriente para o ocidente são muitas as mudanças quer ao nível social como gastronómico. Apesar de em terras lusas o rei continuar a ser o bacalhau para Vítor são os “pratos grelhados” que o conquistaram pelo seu “aroma natural e puro”. Contudo, não só do sabor se faz a mudança, esta é feita principalmente de “horários”.
“Quando se vive numa cidade como Xangai em que os restaurantes estão abertos todo o dia e noite sete dias por semana é complicado. Em Braga, tentamos comer mais em casa até porque o restaurante não está aberto todos os dias e, principalmente, à noite muitos não entregam ao domicílio. Por isso, aprendam a cozinhar”, aconselha.
E de cultura passamos para um dos temas mais controversos, a política. Um tema que pela sua complexidade torna-se difícil de analisar. No entanto Vítor revela que apesar de não existir a abertura que se verifica no ocidente, não se pode considerar o modelo chinês “negativo”.
“Temos sistemas políticos diferentes. Claro que todos os países têm um lado mais positivo e outro mais negativo, mas a realidade na China não é tão séria e negativa como muitas vezes querem passar. Uma coisa que reparei é que acabam por circular muitas notícias falsas na Europa sobre o meu país”, revela.
Nas entrelinhas Vítor confessa que o sufrágio nacional seria algo positivo no país.
Prestes a terminar este capítulo na Universidade do Minho chegou a hora de reflectir sobre o futuro. E se num primeiro momento a ideia era só uma, regressar, agora, com a chegada do coronavirus admitem ficar em Braga.
Mas no final de contas tudo se irá resumir às portas que se vão abrir no mundo do trabalho, uma vez que o percurso já está escolhido e passa pela área da educação.
“Quero ser professor de português. Já tentei ensinar mandarim mas tive muitas dificuldades. Isto porque essa é a minha língua, logo comunico de forma natural não sei ensinar. Já português como estive a aprender percebo como devo ensinar”, assegura.
O casal está agora a reflectir sobre a sua permanência na cidade dos arcebispos. Caso a opção passe por terminar a dissertação garantem que vão ficar pela UMinho. Porém, se as oportunidades profissionais chegarem da China o casal irá de malas e bagagens até Xangai.
São estas as visões de quem está prestes a escolher um caminho: ficar ou partir. Já para quem chega fica um conselho amigo.
“Não sejam tímidos e conversem mais com estrangeiros. Os portugueses são simpáticos e gostam de ajudar por isso não se preocupem. A vida em Portugal é descomplicada e, para além disso, a relação com as pessoas é simples pois como não há tanta gente não existem tantos conflitos. Está tudo de portas abertas”, afirma.
E assim fica marcado mais um Dia Mundial da Rádio sempre com microfones abertos para a diversidade.
