“A noite vai morrer”. Proprietários de bares de Braga antecipam cenário negro 

Os proprietários de bares de Braga consideram que o negócio da diversão nocturna pode acabar, caso perdurem as limitações à circulação de pessoas impostas pelo Governo. Tal como os bares junto à Universidade do Minho, os bares do centro histórico também registam quebras significativas nas receitas, falta de condições para manter funcionários e alguns assumem mesmo o encerramento definitivo de portas.

“Provavelmente vou fechar no próximo mês. Não facturo sequer para pagar a luz”, diz Sérgio Araújo, proprietário de um bar situado no início da rua Dom Paio Mendes, na Sé. É um dos vários estabelecimentos da rua que vive sobretudo do período da noite, deserta nas últimas semanas.

Desde que é obrigado a encerrar às 22 horas durante a semana, Sérgio revela que já perdeu “mais de 90% da facturação”, e nem coloca a hipótese de abrir ao fim-de-semana, até às 13 horas: “aqui ninguém abre durante a manhã, não há pessoas a passar a não ser aquelas que vão à igreja. O governo deixa abrir só para não distribuir apoios”, critica.


Ao contrário de Sérgio, há quem esteja numa situação menos alarmante mas nem por isso livre de problemas. É o caso de José Lopes, proprietário de outro dos bares situados na Sé. José vai conseguindo manter o estabelecimento aberto, ainda que com uma equipa menor do que em Março passado. “Já tive de despedir gente, não tinha condições para renovar contratos”, assinala, apontando o mês de Abril como o limite para a sobrevivência.


“Se as medidas de restrição se mantiverem assim será, para nós, impossível manter até Abril”, antecipa.

O lamento pelas medidas de restrição “caírem sempre sobre a restauração”

Nem agora, nem em Abril. Rui Coelho, proprietário de outro dos muitos bares da Sé, garante que o seu estabelecimento vive uma situação estável e afasta o encerramento definitivo, especialmente porque o período do verão e a consequente vinda de estrangeiros ajudou a minimizar estragos. Porém, tudo pode mudar e os primeiros a sofrer, reconhece, podem ser os funcionários.


“Se estas medidas continuarem e agravarem, logicamente que vou ter de repensar algumas coisas. A prioridade é manter a casa aberta e se tiver que fazer uma opção dessas [a de despedir], fá-la-ei”, assume. O Governo anunciou, nos últimos dias, um conjunto de regras para o novo estado de emergência que limita o funcionamento do sector, algo que Rui lamenta.

“As medidas desta segunda vaga recaem quase todas sobre a restauração. O resto do trabalho continua com o horário normal menos nós. Não faz sentido nenhum”, condena.

As contas, agora, “são de dividir”

Também Filipe Morgado, proprietário do Café-Concerto RUM by Mavy, não compreende porque é que o Governo “não dá hipótese aos bares de mostrarem que conseguem cumprir as regras”. Filipe, há mais de duas décadas no sector, abriu o seu estabelecimento sob o conceito de pub há pouco mais de um ano e diz que, pelo elemento novidade, ainda vive “o período dourado”. 

Ainda assim, a pandemia trouxe-lhe vários dissabores e, desde que foi determinado o encerramento obrigatório às 22 horas, já perdeu, tal como Sérgio, 90% da facturação. “Fecharmos às 10 da noite é quase o mesmo que não abrirmos. Sábado e domingo nem abrimos, os clientes aqui chegam só a partir das 3 da tarde”, diz, acrescentando que a cada vez menor folga financeira não chega para obter lucro.

“As contas agora já não são de somar, são de dividir. Servem para pagar a fornecedores, funcionários e licenças. É impossível tirar lucro”, avalia. 

Se tudo continuar assim, “a noite desaparece”

Filipe refere que, mais do que apoios, o sector quer trabalhar para “manter portas abertas, contas pagas e postos de trabalho”. O comerciante recorda que o gráfico apresentado pelo primeiro-ministro no passado sábado, dia 6, mostrou que “mais de 60% dos contágios acontecem em seio familiar”. “A culpa não é dos bares”, atira.

A julgar pelo contacto que vai estabelecendo com vários profissionais do sector, Filipe estima que será negro o futuro do negócio da diversão nocturna. “A noite vai morrer”, assinala, numa opinião corroborada por Rui Coelho.

“Continuando assim, se a restrição à circulação se mantiver, a noite desaparece. As pessoas vão começar a ter medo e a pensar duas vezes antes de saírem de casa”, argumenta o comerciante.

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Pedro Magalhães
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Sara Pereira
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