Dia Mundial do Teatro. Faltam políticas para deixar de ter cultura “à la carte”

Faltam políticas públicas para o desenvolvimento cultural dos portugueses. Este é um dos vários problemas que têm afetado o teatro, numa espécie de crónica de uma morte anunciada, e que se tem vindo a arrastar ao longo dos últimos 30 anos. Quem o diz é o diretor da Companhia de Teatro de Braga (CTB), Rui Madeira, que num tom irónico se autointitula como “putativo Ministro para a Saúde do Teatro”. “Não fui eleito, não serei convidado”, acrescenta.

Em entrevista à RUM, no âmbito do Dia Mundial do Teatro, o também encenador e ator não tem dúvidas que Portugal é o “parente pobre” na Europa, no que toca a hábitos e formação cultural. Aspetos, para além dos financeiros, que levam a diferenças consideráveis entre os 27 países que compõem a União Europeia.

Para Rui Madeira só será possível mudar o panorama português com “políticas que sustentem o paralelismo equitativo e estratégico entre a cultura e a educação”. Neste sentido, o diretor da CTB mostra-se muito crítico em relação à estratégia implementada pelo executivo bracarense.

“Confunde-se muito animação cultural com criação artística. As cidades crescem e parece que, de repente, as são todas de artistas. Não há condições para fazer criação artística e também não há condições para ir buscar as pessoas às suas horas de lazer, para serem melhores espetadores e para participarem num processo cultural. Tudo é à la carte”, afirma. “Fazem-se oficinas de três horas, fazem-se aproximações à criação artística em duas horas ou pela internet, e, de repente, estamos numa cidade de artistas. E eu estou a falar de Braga, concretamente. É impossível”, defende.

Braga prepara-se para ser Capital Portuguesa da Cultura em 2025. Questionado sobre se considera que este título poderá ajudar a alavancar hábitos culturais na cidade, principalmente junto dos mais jovens e, simultaneamente, significar um maior investimento nas artes, Rui Madeira diz que não, pois na sua ótica para combater “problemas estruturais”, são prementes mudanças de fundo.

“Somos um país pequeno, mas se nós andarmos nas estradas vemos que é a capital do móvel, a capital de chouriça, entre outras. Somos capitais de tudo e não somos capitais de nada”, aponta. “Falta capital. A Capital Portuguesa da Cultura pode ser um empurrão, mas não é com isto que se resolve o problema de fundo. O problema de fundo resolve-se de uma forma mais séria, pensada no tempo e de uma forma mais assertiva”, defende.

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Vanessa Batista
Vanessa Batista

Jornalista na RUM

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