Controlo e perseguição reportados por jovens de Braga em estudo de violência no namoro

“Violência nunca é amor”. Este é o ponto de partida para um estudo nacional da UMAR sobre violência no namoro, com dados referentes a 2020.
Desde logo, no distrito de Braga, os comportamentos associados ao controlo (28%), à perseguição (25%) e à violência sexual (21%) são aqueles que os jovens, em média, mais legitimam (achar que está bem) nas relações de namoro. Participaram 315 jovens, com uma idade média de 15 anos. A legitimação no distrito, em média, é de 20%, mais dez pontos percentuais com o menor valor de legitimação, Viseu.
De entre os/as participantes que afirmam estarem ou já terem estado numa relação de namoro, os indicadores de vitimação autorreportados indicam, em média, uma maior prevalência da perseguição (20%), da violência psicológica (15%) e do controlo (12%). Em média, os indicadores de vitimação são de 10%, no distrito.
67% dos jovens inquiridos consideram natural algum dos comportamentos de violência
Os dados a nível nacional não são muito diferentes. “A percentagem de jovens que indicam já terem vivenciado situações violentas situa-se entre os 6% (Bragança) e os 16% (Açores, Aveiro e Setúbal)”, frisou a técnica da Art’themis +, Margarida Maia.
O estudo envolveu a participação de 4.598 jovens de escolas de todos os distritos do continente e ilhas, dos 7.º ao 12.º anos de escolaridade. Cerca de sete em cada dez jovens que participaram num estudo sobre violência no namoro acha legítimo o controlo ou a perseguição na relação e quase 60% admitiu já ter sido vítima de comportamentos violentos e 67% de jovens consideram como natural algum dos comportamentos de violência.
Os resultados mostram que 26% destes jovens acha legítimo o controlo, 23% a perseguição, 19% a violência sexual, 15% a violência psicológica, 14% a violência através das redes sociais e 5% a violência física.
Entre estes quase cinco mil jovens, cuja média de idades é de 15 anos, 25% acham aceitável insultar durante uma discussão, outros 35% que é aceitável entrar nas redes sociais sem autorização, 29% que se pode pressionar para beijar e 6% entendem mesmo que podem empurrar/esbofetear sem deixar marcas.
No que diz respeito às diferenças por género, é sempre por parte dos rapazes que a legitimação é maior, com destaque para o comportamento “pressionar para ter relações sexuais”, em que a legitimação entre os rapazes (16%) é quatro vezes superior à das raparigas (4%).
Por outro lado, no que diz respeito aos indicadores de vitimação, o estudo da UMAR mostra que 58% dos jovens inquiridos admitiram já ter sofrido de violência no namoro, havendo 20% que admitiram ter sofrido violência psicológica, 17% terem sido vítimas de perseguição ou ainda 8% que foram vítimas de violência sexual.
Os indicadores de vitimação mais frequentes são insultar durante uma discussão (30%), proibir de estar ou falar com os amigos (23%) ou incomodar/procurar insistentemente (17%).
Também na vitimação há uma diferença de género, com uma prevalência de vítimas entre as raparigas, sobretudo na violência psicológica (22%), perseguição (19%) ou controlo (15%).
A forma de violência mais legitimada, desde 2017,é o controlo. Em sentido inverso, a violência física é o comportamento que os jovens menos legitimam. No mesmo período, a forma de violência mais autorreportada pelos jovens é a violência psicológica e a menos autorreportada é a violência física. “Os dados não apresentam uma grande diferença, ao longo deste período”, afirmou Margarida Maia.
“Os números são preocupantes”
Para o secretário de Estado adjunto e da Educação “os números são preocupantes”. “Não é so o que faço, é o que penso sobre o que é natural”, apontou João Costa, salientando a “importância da educação e informação”. “Os governos podem fazer imenso, mas as consciências não se mudam por decreto, mudam-se por passagem de palavra e visibilidade do que existe”, finalizou. A violência, diz o governante, “é uma questão de todos e só se vencerá se todos contribuirem”.
O Governo lançou, esta sexta-feira, uma nova campanha contra a violência no namoro, #NamorarSemViolência, será difundida através das plataformas sociais dirigida aos mais jovens, feita em parceria com o cantor AGIR e os influenciadores digitais, “que exercem influência sobre os jovens”. A campanha destina-se a esclarecer comportamentos e a divulgar linhas de apoio.
A secretária de Estado para a Cidadania e Igualdade reforçou, por isso, a divulgação das linhas de apoio que existem, além de pretender fazer um apelo à denúncia e à procura de informação, desde logo através da linha da Comissão para a Cidadania e a Igualdade Género (CIG) 800 202 448 ou do número de sms 3060. “Estreitamos relações na produção de novas ferramentas, mas também de um trabalho permanente entre a área da cidadania e igualdade, com educação, saúde, justiça, segurança social, entre outras “, assegurou Rosa Monteiro.
