Como sobrevivem as relações à quarentena?

Com o país em estado de emergência, o distanciamento social afastou (fisicamente) vários casais, que testam por estes dias o impacto que a separação tem na relação. Em sentido inverso, a quarentena voluntária colocou outros casais em contacto permanente.

Partilhar o mesmo espaço 24horas por dia, sete dias por semana, com a mesma pessoa tem sido um teste a muitas relações. Joana Arantes, professora e investigadora da Escola de Psicologia da UMinho, está a desenvolver um estudo* para perceber como vivem os casais as diferentes fases do período de quarentena.

“O número de divórcios pode vir a aumentar”, se as pessoas não trabalharem a relação, enquanto o país vive o estado de emergência, alerta a investigadora. “Se o relacionamento estiver bem pode-se tornar ainda mais forte, mas se estava mal e não se faz um esforço de o trabalhar a probabilidade das pessoas, no final desta fase, quererem uma separação é muito maior”, afirma Joana Arantes, alertando que a quarentena “não é uma sentença, mas uma oportunidade para se trabalhar a relação”.

“A percentagem de infidelidade através das redes sociais é muito elevada: 56%”

Segundo o estudo, “as mulheres tendem a reportar maiores níveis de satisfação, compromisso, intimidade e de amor no relacionamento”, já “os homens demonstram maiores níveis de infidelidade”.“A percentagem de infidelidade através das redes sociais é muito elevada: 56% (infidelidade sexual ou emocional)”. 

Outros estudos dizem que “1/3 das pessoas tende a trair e mais de metade tende a ter comportamentos de infidelidade emocional”, ou seja, demonstram vontade “de estar com outra pessoas com quem falam nas redes sociais”.

A felicidade é também um dos aspectos analisados, sendo predominante entre as mulheres e entre as pessoas que estão numa relação. Ainda que, o nível de felicidade diminua à medida que aumenta o tempo de permanência em casa. “Quem não tem filhos tende a ter maiores níveis de satisfação, intimidade, confiança e amor e quem tem filhos tende a reportar maiores níveis de coesão familiar, felicidade ou stress”, acrescentou.


Como podem os casais manter uma relação saudável em tempo de quarentena?

“Apesar da pessoa estar em casa podem na mesma surpreendê-la”, alerta Joana Arantes.

“Manter o romance, fazer pequenas surpresas como um jantar à luz das velas, manter o contacto físico, como dar as mãos quando estão a conversar à mesa, ou prestar atenção às necessidades do outro”, exemplifica.

“Devem fugir à rotina, escrevendo pequenas notas e espalhá-las pela casa, preparar um pequeno-almoço romântico ou fazer um piquenique no jardim ou na varanda”.

Apesar de partilharem o mesmo espaço, diz a psicóloga, é importante, por estes dias, “dar espaço”. Em momentos de conflito, normais nesta fase, é a comunicação que deve prevalecer. “A maior parte dos casais adopta duas atitudes que não são positivas: fugir, tentando evitar o conflito; responder com mais ataque”.

“É importante que o casal consiga resolver os conflitos de uma forma o mais saudável possível e, para isso, é fundamental que se desenvolvam competências e pequenos jogos de comunicação, para que se sintam compreendidos um pelo outro”, acrescentou.

E os casais que estão separados? Como sobrevive a relação à saudade?

“Muitas vezes, estar longe altera a maneira como os membros do casal interagem, por exemplo partilhando situações do dia-a-dia e emoções, que alguns casais que moram perto, normalmente, acabam por descuidar”, começa por explicar a investigadora.

A distância, diz Joana Arantes, “pode ser positiva”, já que pode permitir que “o casal se conheça melhor”.

As novas tecnologias são fundamentais. “É possível fazer almoços ou ver um filme através, por exemplo, do skype”, exemplificou, dando conta de que “a investigação mostra que há até a uma diminuição do número de conflitos e o aumento da satisfação no relacionamento”.

*A amostra do estudo engloba mil pessoas, entre os 18 e os 68 anos, que estão a ser analisadas desde o primeiro dia do estado de emergência. As análises vão ser feitas em diferentes fases para que, quando tudo voltar à normalidade, possa ser feita uma comparação.

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Liliana Oliveira
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