CMB assinala centenário de Victor de Sá com proposta da CDU aprovada por unanimidade

A Câmara Municipal de Braga (CMB) vai assinalar em 2021 o centenário de Victor de Sá com um conjunto de iniciativas propostas pela CDU, aprovadas esta segunda-feira por unanimidade, em reunião de executivo municipal.

As comemorações do município vão envolver seis iniciativas distintas, entre elas uma escultura alusiva à luta pela democracia, assim como uma reedição da sua obra em formato ebook.

Bárbara de Barros, vereadora da CDU, recordou hoje Victor de Sá como uma “figura querida da cidade de Braga”, com um percurso cultural e político e uma intervenção incansável”. Assinalando o seu apoio às candidaturas presidenciais de Norton de Matos, Arlindo Vicente e Humberto Delgado. A vereadora notou que Victor de Sá  foi um dinamizador de candidaturas de oposição pelo distrito à Assembleia Nacional “com um ativismo político antifascista notável”. 

Tendo em conta a data centenária, e apesar das comemorações preparadas pela UMinho mais ligadas ao seu trajeto académico, a vereadora da CDU considera que a cidade “ganha” com o recordar do seu papel “enquanto bracarense”, apesar de ter nascido em Cambeses em 1921.

São seis propostas, mas duas delas ainda carecem da colaboração e aprovação da Biblioteca Lúcio Craveiro da Silva e da Fundação Bracara Augusta. Entre elas constam uma placa alusiva ao seu centenário na rua dos Capelistas, onde funcionou a Livraria Victor, mas também a atribuição do nome Victor Sá a uma sala de leitura da Biblioteca Lúcio Craveiro da Silva. A vereadora realçou a “criação e promoção de um roteiro de resistência dirigida à população estudantil de Braga e aos turistas de forma a identificar alguns dos espaços de encontro dos democratas e antifascitas de Braga”. 

Será ainda lançado um concurso de ideias para a criação de uma peça escultórica alusiva à resistência e à luta pela democracia, colocando-a depois em espaço público. Aqui, a CDU sugeriu que a mesma fosse colocada junto ao Theatro Circo, local reprovado pela maioria da coligação que sugere que seja encontrado outro local. 

A organização de uma sessão evocativa da vida e obra de Victor de Sá, assim como a reedição da obra “Testemunho de um tempo de mudança”, através da Fundação Bracara Augusta, e a sua disponibilização gratuita em formato de ebook na página do município, foram as outras sugestões da CDU aprovadas por unanimidade. 

A ideia é que se possa “dar a conhecer a obra e vida de uma forma abrangente, democrática, valorizando o seu papel e tornando mais dinâmica esta comemoração”, rematou a vereadora comunista.


A proposta de comemoração da CDU contou com os votos favoráveis da coligação Juntos por Braga e do Partido Socialista. Artur Feio, do Partido Socialista, fez questão de elogiar a lembrança da CDU. “É uma boa forma de honrar quem de facto teve um papel tão relevante e interventivo na história da cidade”, disse o socialista.

Já Ricardo Rio ressalvou que, “independentemente de não ser alguém do quadrante político” da maioria, “é um vulto da sociedade que merece ser continuamente reconhecido”.

Victor de Sá, que lecionou no primeiro dia de aulas da universidade do Minho. Conhecido lutador pela liberdade e pela democracia, faleceu em 2003.

Biografia

Joaquim Victor Baptista Gomes de Sá (1921-2003), filho de uma professora primária e um militar, nasceu em Cambeses e veio na infância para Braga. Presidiu a associação de alunos do Liceu Sá de Miranda e desde cedo mostrou interesse pela dinâmica cultural e política. Licenciou-se em Ciências Histórico-Filosóficas em Coimbra, em 1959, e foi nomeado professor da Escola Comercial de Braga, mas impedido de ensinar por não ser “do regime”. 

A Fundação Calouste Gulbenkian concedeu-lhe uma bolsa em 1963 para o doutoramento na Sorbonne (França), que concluiu em 1969, com a tese “A Crise do Liberalismo e as primeiras manifestações das ideias socialistas em Portugal (1820-1852)”.

Só após a revolução, aos 53 anos, reconheceram-lhe o grau e pôde lecionar na Universidade do Porto. Ainda assim, viveu certas hostilidades, como a reprovação nas provas académicas de agregação (sobre o Movimento Operário Português), por motivos que lhe custou a aceitar. Também lecionou no primeiro dia de aulas da UMinho, a 17 de dezembro de 1975, e regeu algumas cadeiras durante dois anos. Mais tarde esteve na Lusófona, que hoje mantém uma biblioteca com o seu nome. 


Victor de Sá tornou-se em 1979 o primeiro comunista eleito do Norte (Porto excluído) à Assembleia da República. Foi ainda diretor do jornal “Correio do Minho”. Ao longo do tempo, aliou os estudos e a intervenção com a cultura, promovendo atividades e escrevendo livros como “Bibliografia Queirosiana”, “As bibliotecas, o público e a cultura” e ”Roteiro da imprensa operária e sindical”. Foi condecorado em 1990 com a Ordem da Liberdade, pelo então Presidente da República Mário Soares.


No ano seguinte, num gesto de “grande generosidade e ineditismo”, Victor de Sá doou uma verba e boa parte do seu espólio à Biblioteca Pública de Braga (BPB)/UMinho, incluindo documentos de natureza histórica, política e literária, textos memorialísticos inéditos e ainda os direitos de autor da sua ampla bibliografia. 

Rentabilizando aquele acervo, a BPB e o Conselho Cultural da UMinho lançaram os livros “Estudos de História contemporânea de Portugal” (1991), “Testemunho de um tempo de mudança” (1999), “Legendas para uma memória” (2001) – a par do colóquio “Uma cidadania para a História” e da revista “Forum nº32” – e ainda “O Mundo continuará a girar (2011)”, sobre os 20 anos do Prémio Victor de Sá de História Contemporânea e a par de uma mostra fotobibliográfica alusiva.

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Elsa Moura
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