Cientistas mostram que é arriscado comparar a migração humana com as invasões biológicas 

Um grupo de cientistas, que contou com um biólogo do Centro de Biologia Molecular e Ambiental (CBMA) da Universidade do Minho, concluiu, numa investigação mundial que envolveu especialistas de várias áreas, que é arriscado comparar a migração humana com as invasões biológicas.

Em entrevista à RUM, o investigador Ronaldo Sousa, o único português a participar nesta pesquisa, explica que este é “um estudo puramente teórico que envolveu pessoas da parte da biologia, ecologia, das ciências sociais e até economistas” e que tentou “traçar as diferenças e as similaridades que existem em quem trabalha com espécies invasoras, na parte mais ecológica e também nas dinâmicas de migrações humanas. O que tentamos estabelecer foi as principais diferenças e similaridades entre os dois tópicos”, detalha o biólogo.

Esta investigação, publicada na revista “Biological Reviews”, contou com investigadores das ciências naturais e sociais de 42 instituições de 23 países. Para Ronaldo Sousa, foi um desafio “muito complexo, mas muito bom. Nós, que somos mais da parte ecológica, temos uma visão das coisas. Na parte social, mesmo o cuidado com a linguagem é outro. Foi um exercício muito interessante”.

O também professor da Escola de Ciências da UMinho considera que o uso de terminologias da ciência da invasão – como “alienígena”, “exótico”, “invasor” ou “erradicação” – para descrever a migração humana “simplifica excessivamente a questão, reforça narrativas xenófobas e distorce a perceção pública sobre os migrantes”.

A investigação, intitulada “Paralelos e discrepâncias entre a introdução de espécies não nativas e a migração humana”, mostra a forma como estes temas têm sido retratados pelos políticos, que utilizam as invasões biológicas para apresentar “a migração como uma ameaça”. Ronaldo Sousa diz ainda que depois da conclusão deste “exercício”, o cuidado com o vocabulário é maior por parte dos investigadores.

“Ao fim deste exercício, estamos a ter um cuidado maior com o vocabulário que utilizamos na forma de comunicar e até na forma como escrevemos os artigos científicos, para ter um cuidado na utilização de certas palavras”, conclui.

A solução poderá passar pela implementação de uma abordagem interdisciplinar que conecte as ciências naturais e sociais, garantindo que as políticas de migração e de gestão ambiental sejam contextualizadas, cientificamente rigorosas e eticamente fundamentadas, defendem os investigadores. 

O estudo pretende contribuir para a formulação de políticas que respeitem a dignidade humana e incentivem a cooperação global.

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Ariana Azevedo
Ariana Azevedo

Jornalista na RUM

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Sérgio Xavier
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