Universidades querem futuro mais autónomo, europeu e sem amarras formativas

Jaume Casals, antigo reitor da Universidade Pompeu Fabra, em Barcelona, foi o convidado responsável por dar o pontapé de saída do ciclo de palestras “Os próximos 50 anos”, organizado pela Universidade do Minho. Perante uma plateia de académicos, partilhou uma visão “clássica”, mas assente no princípio da liberdade das universidades para trilharem os seus próprios caminhos, no sentido de se distinguirem pelo propósito que elegem e não pelo número de estudantes, professores ou formações, pois acredita que a falta de identidade poderá levar ao desaparecimento dessas instituições.

Na partilha de 10 caraterísticas e reflexões sobre as universidades do futuro, não faltaram críticas ao excesso de burocracia imposta pela União Europeia no funcionamento das Alianças Europeias.

“Eu não critico as universidades, mas sim a União Europeia que calcula o dinheiro dado a essas instituições para realizar uma série de atividades e para as documentar, que muitas vezes são supérfluas, não têm nada haver com a atividade das universidades”, ou seja, é criada burocracia desnecessária para além de pedimos de alargamento dessas redes.

“A União Europeia deveria assegurar que a Comissão Europeia, quando trata do tema do conhecimento, atua sempre de uma forma lúcida como ocorre com o European Research Council ligado à investigação”, frisa.

Depois de apresentados e debatidos os 10 pontos da intervenção, a RUM questionou o orador sobre quais os critérios fundamentais de uma Universidade de futuro. Ora, na ótica de Jaume Casals, o ensino superior deve beneficiar de uma maior “autorregulação”, sem esquecer a “qualidade” das formações que lecionam, mas também do lado dos estudantes que não devem olhar apenas para o exame de acesso ao ensino superior. Desta feita, o terceiro ponto sublinhado pelo antigo reitor da região da Catalunha prende-se com a necessidade de os livros voltarem a ganhar relevância na sala de aula. No fundo, uma formação focada não só nas áreas científicas, mas também na cultura e nas artes para uma formação verdadeiramente completa.

Apesar da dimensão de Portugal, por terras lusas existem mais de 4 mil cursos superiores entre o público e privado. Já Espanha, cinco vezes maior, tem menos 700 formações. Para o reitor da UMinho, Rui Vieira de Castro, estas caraterísticas levam a “uma maior segmentação, perda de escala e de massa crítica”.

No período de questões ao convidado, o presidente da Escola de Ciências da UMinho, José Manuel Gonzalez Meijome, partilhou a sua preocupação com o facto de algumas formações daqui a poucos anos estarem obsoletas. Deste modo, será premente realizar uma revisão da oferta educativa, sem receios de fazer diferente, de modo a proporcionar formações mais abertas e completas para diferentes opções de carreira.

Recorde-se que em Portugal, 41% dos empregados trabalham fora da sua área de estudos, mostra o estudo “Do adults have the skills they need to thrive in a changing world?”

Com o envelhecimento da população portuguesa, aumento da concorrência por parte de instituições asiáticas e tensões mundiais devido aos vários conflitos, a Universidade do Minho tem já apostado em cursos não conferentes de grau, de modo a permitir o regresso de profissionais à instituição para atualizar conhecimentos. Para João Rosas, presidente da Comissão Comemorativa dos 50 Anos da UMinho, este é “sem dúvida um novo público no qual as universidades terão de se bater e que é importante e necessário para a sociedade”.

Nos dias 16 e 17 de dezembro há duas novas sessões do ciclo “Os próximos 50 anos”. No dia 16 de dezembro, às 16h00, na Escola de Direito, a presidente do European University Institute, Patricia Nanz, traz a temática “The role of universities in today’s society”.

Por fim, às 17h00 do dia 17 de dezembro, no auditório B1 do CP2, no campus de Gualtar, tem lugar a conferência “El futuro de las universidades”, com a participação de Josep M. Garrel, Presidente da European University Association.