Cancro da Pele. “Este ano mandamos muito mais doentes para o IPO”

“Tinha um sinal na perna e reparei que estava a crescer, a ficar preto e com uma forma irregular, diferente de outros que tenho”. Tudo começou no início do verão passado. Ao entrar na casa dos 60 anos, Eugénia Torres sentiu algo estranho. Aconteceu o pior: cancro da pele.
A exposição solar frequente e a deslocação semanal ao solário motivaram este diagnóstico. Depois do “choque inicial”, a cidadã bracarense mostra-se agora aliviada por ter detetado o problema a tempo.
Eugénia desenvolveu um melanoma, que é o tipo de cancro da pele menos frequente – atinge cerca de mil pessoas por ano em Portugal -, mas o mais perigoso. A partir do momento em que se espalha pelo resto do corpo, as chances de sobrevivência são quase nulas.
O caso de Eugénia é um exemplo da forma como o diagnóstico precoce pode evitar problemas maiores. Quem a acompanhou neste processo de recuperação foi a diretora do serviço de Dermatologia do Hospital de Braga.
Celeste Brito refere que a situação relatada é uma exceção, já que “os doentes aparecem cada vez mais tarde ao hospital”, considerando que “o medo instalado pela pandemia” tem sido o principal motivo. “Começamos a ter mais casos e a receber pessoas em que os melanomas apresentam espessuras que já não estávamos habituados. Este ano mandamos muito mais doentes para o IPO”, retrata.
A influência do passado no cancro da pele
Devido à pandemia, pelo segundo ano consecutivo, o Hospital de Braga não vai realizar a campanha de rastreios.
Ainda assim, assinala esta quarta-feira o Dia do Euromelanoma e dos Cancros da Pele com uma ação de sensibilização sob o mote ‘O seu passado pode influenciar o seu futuro’.
A dermatologista alerta que “a pele tem memória” e que, por isso, “uma queimadura solar em criança tem propensão para desenvolver mais tarde um melanoma”. Celeste Brito sugere a realização de um autoexame de dois em dois meses.
Os indícios de melanoma relacionam-se com as caraterísticas das manchas, sinais ou lesões que podem estar em diversas parte do corpo: assimétricos, bordos irregulares, várias cores, lesões com mais de 5 milímetros de diâmetro e a alteração do seu tamanho.
Já a exposição ao sol, a ida ao solário, idade avançada, a quantidade e as caraterísticas dos sinais e pele, olhos e cabelos mais claros são alguns dos fatores de risco que potenciam o cancro da pele.
Apesar de o pior, à partida, já ter passado, Eugénia continua a ser vigiada regularmente no Hospital de Braga. “A minha filha também fazia solário e já parou. Temos de continuar a passar a mensagem. Isto é um problema silencioso”.
