“Este é o 1.º passo para a liberdade, não quero levar uma vacina para morrer”

Altice Forum Braga, 10 horas, 23 de Fevereiro. Um ano depois da pandemia chegar à Europa e quase um ano depois do primeiro caso em território nacional, a esperança da imunização reuniu, logo pela manhã, algumas dezenas de pessoas à porta do Altice Forum Braga. No primeiro dia de vacinação no espaço municipal, cerca de 800 utentes receberam a primeira dose do fármaco.

Rosalina Teles completou 99 anos no sábado, três dias depois foi uma das utentes vacinadas. Bem disposta desde os tempos em que era jovem, mas já com menos força, Rosalina garante que a vacinação não doeu, mas, confessou, estava com algum receio na toma. “Tenho muitos netos que eu adoro e tinha medo de morrer”, afirmou. A um ano de completar um século  de vida, a idosa não tem saído de casa mas, esta terça-feira, veio acompanhada por uma neta, que reconheceu a rapidez do serviço.

Logo ao lado, com 95 anos, Manuel Gomes, chegado de Tibães, também levava a vacina, o passaporte que o vai permitir “ir às moças”, depois de uma temporada passada em casa. “Não tenho apetite nenhum, mas tenho que a levar senão não vinha”.

Como funciona o processo de vacinação no Altice Forum Braga?

O processo no Altice Forum Braga é simples. Depois de receberem um SMS, um telefonema ou uma carta e confirmarem o interresse na vacinação, é indicado aos utentes o dia e a hora em que serão vacinados. À porta do equipamento municipal, na porta de acesso virada para o estacionamento, estavam já alguns dos 800 utentes com marcação para esta terça-feira. Sobem um lanço do escadas, e depois outro e chegam ao piso superior do Forum, onde está instalado o centro de vacinação. Aguardam a chamada e depois sentam-se num dos vários compartimentos e são vacinados. O processo de inoculação demora apenas uns segundos, mas pode valer uma vida. Todo o processo, dizem os utentes, “foi rápido”. Logo depois, já vacinados, são encaminhados para uma sala de espera, onde aguardam 30 minutos, por forma a garantir que não há efeitos adversos. Depois, são encaminhados para a saída e o processo repete-se daqui a três semanas. Os utentes que foram vacinados hoje, recebem a segunda dose a 16 de Março.

“Há sempre um receio, porque ainda não há resultados visíveis”


Na sala de espera, já vacinada, encontramos Teresa Oliveira. Aos 95 anos, garante que “estava ansiosa”, porque acha que o fármaco “é bom” e vai ajudar na luta contra a doença. “Nunca esperei passar por uma situação destas, mas tem que ser”, admitiu. Ali bem próximo estava Manuel Antunes, de 94 anos, também ele “ansioso” por ser vacinado, admitindo, no entanto, “que há sempre um receio”. “Toda a gente desconfia das vacinas, se serão boas para a saúde? Eu acho que sim, mas há sempre um receio, porque ainda não há resultados visíveis”, afirmou. Garantindo que “não doeu absolutamente nada”, Manuel espera que o fármaco posso mudar a rotina dos dias de hoje. “Tenho estado sempre em casa, na medida em que temos que ser uns para os outros, mantendo a distância, andar de máscara, lavar as mãos. Este é o primeiro passo para a liberdade, não venho aqui para levar uma vacina para morrer”, brincou.

José Fernandes, é de S. Victor e aos 90 anos ainda tem “dúvidas” sobre “o tempo que a vacina vai atuar” garantindo a imunização. 

Das mãos do enfermeiro Jorge Barros sai a esperança de dias melhores. “O primeiro dia está um pouco confuso, mas está a correr bem. O local é mais arejado, com mais liberdade de circulação e os idosos chegam motivados para colaborar na imunização de todos”, revelou.

Com necessidade de subir escadas, pessoas com mobilidade reduzida podem usar o elevador ou ser vacinadas no carro 

As condições do espaço também parecem agradar aos utentes e acompanhantes. A filha de Manuel Gomes, Adelaide Faria, considera que o centro de vacinação no Forum Braga reúne condições “muito melhores do que na USF Maxi Saúde, no Largo Paulo Orósio”. Já a neta de Rosalina, Célia Gomes, considera que a entrada dos idosos devia acontecer pela porta principal do edifício, evitando a subida dos degraus. Mas o presidente da Câmara Municipal de Braga, Ricardo Rio, visitou o espaço esta terça-feira e garante que, “com estas condições, dificilmente se poderia ter uma situação melhor do que esta”. “Há pessoas com autonomia e capacidade de locomoção e as pessoas com mais limitações podem usar cadeiras de rodas ou usar acessos diretos e privilegiados. As pessoas com muitas limitações podem vir e nem sair da viatura, porque lhe é administrada lá a vacina”, detalhou. “Por uma questão de logística, a vacinação deveria acontecer, nesta fase, num só local e este foi o escolhido”, acrescentou.


Quando a vacinação for generalizada, poderão entrar no processo “centros de saúde, sedes de Junta de Freguesia e farmácias”. Por enquanto, a rapidez está apenas dependente das vacinas que chegam a Braga, uma vez que, assegurou o autarca, teriam “condições para poder amplificar o processo, quer ao nível das instalações, quer de recursos humanos do ACES”. Estão alocados dez profissionais de saúde por turno, ou seja, de manhã e de tarde, que permitem que a vacinação decorra de segunda-feira a domingo. 

A alocação destes recursos humanos “não prejudica a atividade que já está a ser retomada no ACES”, garantiu o diretor do ACES Braga, Domingos Sousa. Os utentes estão a ser chamados por SMS, telefone ou carta e “75% responderam afirmativamente ao SMS”, revelou o diretor, que diz ser “uma boa percentagem, tendo em conta a faixa etária”.

Braga deverá ter 19 mil pessoas vacinadas até ao final de Abril

Ricardo Rio pede “transparência e escrutínio” no processo de vacinação no país, sugerindo que, “tal como acontece com o número diário de infetados e a territorialização semanal também devia acontecer com a vacinação”.

Até ao final da semana, serão vacinados mais 2.500 utentes, que se juntam aos 2.123 já vacinados com as duas doses, onde se incluem vacinações em lares e forças de segurança. A primeira dose já chegou a mais 2.200 bracarenses. Os 19 mil utentes indicados para esta fase da vacinação estarão totalmente vacinados em finais de Abril, sendo que para cumprir as metas é necessária a “disponibilização das vacinas”.

Portugal tinha recebido, até ao final da semana passada, 800 mil vacinas. É uma luta diária para por fim à pandemia, que assola o mundo há um ano.

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Liliana Oliveira
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