Braços de Ferro e Geringonças: As posturas que vão marcar o mandato autárquico em Braga

A primeira sessão ordinária da Assembleia Municipal de Braga serviu para os partidos marcarem o "tom" da governação 2025-2029. Num cenário de maioria relativa da coligação "Juntos por Braga", a oposição subiu o tom. Entre a metáfora da "bola" do Chega e o aviso do PS de que "não será muleta", a RUM reuniu as declarações políticas que definem a postura de cada bancada.

O arranque do mandato 2025-2029 em Braga promete ser um dos mais desafiantes da história recente da cidade dos arcebispos. Sem o conforto da maioria absoluta no executivo, a governação de João Rodrigues depende agora de um equilíbrio fino que passa também pela Assembleia Municipal. Na primeira reunião do órgão deliberativo da autarquia bracarense, as forças políticas que o constituem deram o mote para os próximos quatro anos com as habituais declarações políticas que marcam o início dos trabalhos.

A RUM reuniu as posições assumidas na passada sexta-feira:

PPD/PSD.CDS-PP.PPM (João Marques): “Imaturidade e irresponsabilidade”

A coligação vencedora, através de João Marques (PSD), adotou uma postura de ataque direto àquilo que considera ser um bloqueio sistemático da oposição.

“O que nos preocupa é que, entre a imaturidade e a irresponsabilidade, se fixem os termos para o diálogo. Como pode um presidente responsável dialogar com quem parece não saber bem o que quer? Não esperamos facilidades nem queremos displicência, mas não podemos pactuar com atitudes de sobranceria democrática, de desrespeito pelo debate e, no limite, pelos eleitores que nos escolheram.”

Dentro da mesma coligação, Carlos Neves (CDS-PP) vincou que lealdade não significa silêncio:

“Respeitamos os resultados eleitorais, respeitamos a atual configuração… Mas respeitar não é silenciar. Respeitar não é abdicar do debate e respeitar, muito menos, é renunciar à missão política que Braga nos exige.”


PS (José Eduardo Gouveia): “O PS não será uma muleta”

Do lado da bancada do Partido Socialista, José Eduardo Gouveia definiu a autonomia como ponto central para o diálogo com o executivo.

“O Partido Socialista cá estará, como sempre esteve, não para se colocar em bicos de pés nem para rasgar as suas vestes gritando pureza democrática. O PS não será uma muleta que passará cheques em branco a troca da tradição do Bloco Central, mas estará sempre disponível para o diálogo. Estaremos cá sempre, disponíveis para o consenso, se quem está em minoria mostrar genuína vontade de colaboração.”


Amar e Servir Braga (Francisco Duarte): “Sem medo de geringonças”

O movimento independente, representado por Francisco Duarte, assumiu uma postura de pragmatismo total, recusando rótulos políticos.

“Nós somos a favor de todos os cidadãos de Braga. Com uma diferença: nós temos a humildade de achar que todos os que estão aqui têm essa vontade. Se tivermos de fazer geringonças com o PS, com o PSD, com quem for que sirva os interesses da população, nós faremos geringonças ou chamem-lhe o que quiser.”


Chega (Carlos Barbosa): “Saber jogar a bola à esquerda e à direita”

Carlos Barbosa recorreu a uma analogia futebolística para descrever o novo equilíbrio de forças no executivo bracarense.

“Senhor Presidente, espero que tenha capacidade de saber jogar a bola, porque vai ter que saber jogar a bola com todos os intervenientes do seu executivo. Realmente não vai só poder dar toques à direita, também vai ter que saber dar toques à esquerda, porque da forma como está a fazer o seu governo, não irá conseguir fazer tudo aquilo que certamente pretende.”


Iniciativa Liberal (Bruno Machado): “O verdadeiro imposto é a despesa”

A postura da IL, defendida por Bruno Machado, foca-se na vigilância apertada dos gastos municipais e na eficácia da gestão pública.

“Milton Friedman lembrava-nos uma verdade essencial: quanto o governo está a gastar, porque isso é o verdadeiro imposto. E a nível local isso significa olhar com rigor para quanto e como o município está a gastar. Cada euro mal investido transforma-se num custo real para os cidadãos, seja através de mais impostos e taxas, seja através de serviços municipais que não respondem às necessidades de Braga.”


CDU (Sandra Cardoso): “Uma traição ao voto dos bracarenses”

Sandra Cardoso, deputada única eleita pela CDU, focou a sua posição na denúncia do que considera ser um abandono das necessidades da cidade pelos deputados eleitos em Lisboa.

“Uma vergonha, no nosso entender, é uma traição ao voto dos bracarenses que lhes confiaram a missão de defender os seus interesses em primeiríssimo lugar na Assembleia da República. Não se compreende esta discrepância entre a promessa feita em Braga e o sentido de voto depois em Lisboa.”


A primeira grande sessão do mandato confirmou que Braga entrou oficialmente na era da governação por “geometria variável”. Se durante doze anos a estabilidade foi garantida por maiorias claras, o novo quadro político exige agora um executivo de negociação permanente e uma oposição que, embora fragmentada, parece coordenada no reforço do escrutínio.

Com dossiers pesados na agenda, da revisão do PDM aos investimentos do PRR e à mobilidade no Nó de Infias, a gestão municipal terá de encontrar novos caminhos de entendimento para evitar o risco de paralisia institucional. As cartas estão na mesa: o PS recusa o papel de “muleta”, o Chega reclama o centro do jogo político e independentes e liberais garantem um olhar rigoroso sobre cada decisão. Em Braga, a política voltou a fazer-se ao segundo, sob o escrutínio atento dos cidadãos.

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Ariana Azevedo
Ariana Azevedo

Jornalista na RUM

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