Aldeia Feliz leva conselhos médicos e companhia a idosos de Arcos de Valdevez

Vale é uma pequena freguesia do município de Arcos de Valdevez, com 855 habitantes.

Num dos extremos da aldeia, bem no topo da montanha, vive Dorinda Rocha. Uma idosa, que, embora não tome muitos comprimidos para as dores, diz ter “um coração malandro”.

A casa de Dorinda, e do marido João, foi uma das primeiras paragens da visita de alguns dos 21 estudantes do 2.º ao 6.º ano de Medicina da Universidade do Minho, que, por estes dias, cumprem mais uma edição da Aldeia Feliz. O projeto pretende realizar rastreios cardiovasculares junto da população idosa e isolada de algumas regiões do Minho. Este ano percorrem algumas aldeias dos Arcos.

“Acho que a nossa visita teve de facto um impacto bastante positivo, porque conseguimos não só conversar sobre a saúde, dar dicas sobre a nutrição, o calor, a hidratação, mas conseguimos também conhecer um pouco as pessoas, contar um pouco da nossa história e receber um pouco da história deles”, começou por comentar a presidente do Núcleo de Estudantes de Medicina da UMinho (NEMUM), Carolina Machado.

Cabe precisamente ao NEMUM a tarefa de todos os anos, por esta altura, promover a iniciativa, que, além de ser “enriquecedora para as pessoas, porque se combate a solidão, também é muito enriquecedora a nível pessoal, porque os estudantes desenvolvem várias estratégias de comunicação”. “Conseguimos também lidar com um público-alvo bastante diferente daquilo que estamos habituados e que no futuro vamos ter que lidar enquanto médicos”, acrescentou. Durante o percurso, os estudantes medem a tensão e a glicemia, falam sobre a medicação habitual, hábitos de vida e dão conselhos sobre os cuidados a ter. 

“Desejo que tudo lhes corra bem e que sejam bons doutores”

“Tem que ter muito cuidado com o sol quando está a trabalhar, tem que beber muita água”, dizia uma das estudantes a Dorinda, que prontamente respondia: “Ai a água acompanha sempre a gente”.

Mais à frente encontramos Adelino Domingues, de 74 anos, e Maria das Dores Gonçalves, de 84 anos. Maria é vizinha de Adelino e da esposa, com que passa o dia inteiro, só regressando à sua casa para dormir. Esta é a forma que encontra para não passar os dias sozinha.

Chegados à casa do casal Domingues, lá estava Maria, sentada junto ao portão, acompanhada por meia dúzia de caninos, com quem divide o tempo e a conversa.

Adelino foi o primeiro a picar o dedo e a medir a tensão. Diagnóstico positivo, tal como o de Maria, que só se queixa da tosse, que nem o xarope consegue resolver.

“Desejo que tudo lhes corra bem e que sejam bons doutores, para cuidar das pessoas. Agradecemos muito”, disse Adelino quando questionado sobre a importância desta iniciativa.

Já Maria não tem dúvidas de que estes jovens escolheram a profissão certa “para ganhar dinheiro”.



“Que Deus os ajude e lhes dê muita saúde para poderem regressar aqui”


Batemos ainda à porta do casal Gomes. José e Maria foram emigrantes nos Estados Unidos, durante várias décadas, tendo regressado ao Vale à terra Natal há cerca de 11 anos.

“Não me deram boas notícias, disseram-me que tinha a tensão muito alta e agora, claro, já não vou poder beber a garrafinha logo, nem vou poder dançar na festa da Senhora da Peneda. Disseram também para me cuidar, senão a mulher fica tudo para a mulher”, brincou José.

“Caso seja preciso ajustar a medicação, é melhor falar com o médico e dizer-lhe que aqui estava um bocadinho alta”, aconselharam os futuros médicos.

Para Maria Gomes, a Aldeia Feliz é um projeto bom, porque os jovens “fazem companhia aos velhinhos e conversam”. “Que Deus os ajude e lhes dê muita saúde para poderem regressar aqui”, afirmou.

Apesar de Maria dizer o contrário, José garante não sofrer da síndrome da bata branca. Até porque se algum dia for parar ao Hospital dos Arcos, espera ser atendido por um destes futuros médicos. “Desejo-lhes sorte e que não fujam para o estrangeiro”, pediu José.

O hospital ou o centro de saúde mais perto ficam a cerca de dez quilómetros da freguesia do Vale e, por isso, por estes dias, os rastreios são feitos porta a porta a cerca de 80 idosos referenciados pela Câmara Municipal dos Arcos de Valdevez. A estes, somam-se mais ou menos 100 pessoas que deverão passar, este sábado, pelo centro da vila, onde os estudantes estarão a cumprir a mesma tarefa. Por estes lados, a solidão é muitas vezes a doença de que padecem e a visita destes futuros médicos é, por isso, uma lufada de ar fresco, naquela que é mais uma… Aldeia Feliz.  

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Liliana Oliveira
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Carolina Damas
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