Da prosa ao ensaio, os cinco livros sugeridos por António Ferreira para o ano 2026

Da prosa ao ensaio, da ficção à fantasia, a entrada no Ano Novo com a RUM faz-se com a cultura e com as recomendações de quem percebe. A Universitária pediu a António Ferreira, autor do programa semanal “Livros com RUM”, cinco sugestões de leitura para arrancar 2026 com novas perspetivas. Esta é uma seleção de obras que convida à reflexão, desperta a imaginação e abre caminhos para compreender melhor o mundo, numa seleção pensada para leitores curiosos e atentos ao que a literatura tem de mais estimulante.
- ‘Rio Minho. Uma viagem entre Solstícios’ de Xesús Fraga. O escritor e jornalista galego narra uma caminhada de seis meses, entre o Inverno e o Verão, ao longo dos 315 km do Rio Minho, explorando a sua importância como fronteira natural e cultural entre a Galiza e Portugal, revelando a história, tradições, paisagens e a identidade dos povos ribeirinhos através de uma escrita lírica e documental.

“É a sua gente, a sua cultura, os escritores que escreveram sobre o Rio Minho, de um lado e do outro da fronteira, carregado de grande poeticidade na escrita.”
- ‘Sou o Rebelde’ de Ross Montgomery. A história acompanha a vida do Rebelde, um cão que vive uma vida simples e calma na quinta com o dono Tom, até ao dia em que este decide juntar-se a um grupo de rebeldes com o objetivo de combater o rei tirano. Como o bom cão que é, Rebelde espera pelo dono, mas quando percebe que o Tom não regressará tão cedo, e pode até nem voltar, parte em sua busca para o trazer para casa, antes que seja demasiado tarde.

“Aqueles mais jovens, mais resistentes à leitura, comecem por aqui que vão ver que é uma experiência inesquecível, no mínimo.”
- ‘Sede’ de Virginia Mendoza. A jornalista e escritora confronta a história de como os humanos enfrentaram a falta de água, em diversas contextos, com o seu próprio relato enquanto habitante da árida La Mancha. A historiadora conduz-nos, ao largo de vários séculos e continentes, pelas sociedades impulsionadas pela sede, mostrando-nos como esta necessidade esteve na origem do que somos e de como chegámos aqui.

“Nós estamos habituados a olhar para a evolução humana desde a idade do fogo, dos utensílios, do vestuário, da habitação. Virginia Mendoza escolhe um outro sentido: a água ou a sua ausência.”
- ‘Estremecimento’, de Teju Cole. Esta obra conta a história de vida de Tunde, um professor nigeriano nos EUA, usando uma narrativa fragmentada para discutir temas como a identidade, colonização, racismo, arte e a passagem do tempo. É menos uma história de ação e mais um exercício de atenção, convidando o leitor a observar como pequenos gestos, memórias e obras de arte revelam as grandes fraturas do nosso tempo.

“Aquilo que aparentemente era a integração normal de um homem, dá-nos a perceber que, independentemente de tudo, o racismo é a rejeição pelo outro, é uma evidência constante.”
- ‘O Livro do Énio’, de Carlos Poças Falcão, retrata a vida de um rapaz sensível e imaginativo que se sente diferente dos outros e tem dificuldade em integrar-se no mundo que o rodeia. Énio observa atentamente as pessoas e a natureza, revelando uma grande capacidade de reflexão.

“O sujeito poético também é um sujeito da atualidade, no entanto, vai remeter para a época clássica, para a época latina. O Énio é o mesmo sujeito, com dois mil anos de intervalo, que vive os mesmos dilemas, os mesmos dramas.”
Para 2026, António Ferreira sugere, ainda, ficar atento aos autores portugueses, sobretudo Patrícia Portela e Paulo José Miranda, ainda que esteja um pouco “hibernado”. Ainda na Europa, a recomendação recai sobre o poeta e romancista romeno Mircea Cărtărescu que, em Portugal, tem apenas editados dois títulos: ‘Porque Gostamos das Mulheres’ e ‘Ofuscante’.
Finalmente, para aqueles que preferem literatura latino-americana, César Aira é um autor argentino que “merece ser descoberto”.
