“O erro é dos aspetos mais importantes na evolução e no crescimento”

Um auditório não foi suficiente para acolher as mais de 400 pessoas que quiseram assistir à Conferência Alumni, para ouvir o selecionador nacional de futebol, Roberto Martinez, o de futsal, Jorge Braz, e o de andebol, Paulo Jorge Pereira, mas também Manuela Vaz, presidente da Accenture Portugal e Ana Bispo Ramires, psicóloga e especialista em performance, a propósito do “Alto desempenho em ambientes exigentes”.
Foco, erro e clareza. Estas são algumas das características que os convidados mencionaram ao longo de mais de duas horas de conversa.
“Eu acho que é muito importante ter clareza. Criar um ambiente de alto desempenho em teoria é muito simples, mas o que é importante é ter clareza para todos os jogadores no balneário”, afirmou, numa entrevista exclusiva à RUM, Roberto Martinez.
A par dos objetivos pessoais, importante perceber os coletivos, referiu ainda, considerando que todos precisamos de melhorar e de crescer para “criar um ambiente de equipa de elite”.
Martinez, que também foi jogador, não tem dúvidas de que os atletas “gostam da pressão”. “Para chegar ao balneário da Seleção é porque os jogadores já mostraram que podem lidar com a pressão e que são atletas que gostam do foco”, apontou. No entanto, a pressão de que se fala fora do relvado “é muito diferente” do que se sente lá dentro, afirmou o técnico espanhol, que fala do “orgulho em vestir a camisola e representar a bandeira”. “Isso é muito, muito especial na carreira de um jogador”, acrescentou.
Aos estudantes da UMinho, Roberto Martinez deixou ainda uma mensagem: “Façam tudo aquilo que podem para atingir um sonho. O propósito precisa ser um sonho e os sonhos são difíceis, mas depois lutem e mostrem persistência”.
Jorge Braz, que lidera a Seleção Nacional de Futsal, não tem dúvidas de que “o erro é dos aspetos mais importantes na evolução e no crescimento”. O técnico, que conhece bem a UMinho, salienta a importância de se “ter consciência que o erro faz parte do processo”. “Muitas vezes achamos que um jogo, um treino, vai ser tudo perfeito, não vai. Nem quando fomos campeões do mundo foi tudo perfeito, tivemos erros”, denotou.
Para superar, acrescentou Braz, é necessário “evitar a frustração e perceber que isso faz parte”. “Mesmo em ambientes de enorme exigência e em patamares tão elevados, queremos errar o menos possível, mas vamos errar. Perceber que isso faz parte é muito importante”, frisou.
“Em Portugal, não há um canal formal de aprendizagem destas competências”
Fora do contexto desportivo, Manuel Vaz, a primeira mulher a ocupar a liderança da Accenture em Portugal, explicou que, no contexto da sua organização procura “pessoas resilientes, muito focadas em entregar valor aos seus clientes, pessoas muito curiosas, com vontade de aprender e que estejam sempre à procura de estar um par de passos à frente daquilo que está a correr no mercado hoje em dia”.
“Neste momento, na Accenture tem 6.500 colaboradores, de 70 nacionalidades. Temos engenheiros, economistas, doutores, psicólogos, criativos, data scientists, portanto, temos realmente uma diversidade de pessoas, de talento, mas que depois, para trabalhar em equipa, precisam de lideranças fortes, com valores, resilientes, com visão e, portanto, que conformam essas equipas, que realmente entregam valor 360, como nós chamamos, aos clientes”, acrescentou.
Ana Bispo Ramires conta com uma carreira de mais de 25 anos e acompanha vários atletas olímpicos em contexto privado. “Quando nós avaliamos pessoas que atuam em diferentes contextos, seja empresas, desporto, artes, aquilo que nós observamos muito frequentemente são características como a capacidade de desenvolver esforço durante um período prolongado, a capacidade resistente à frustração, a capacidade de se reerguer quando as coisas não correm bem e, acima de tudo, são pessoas que estão muito focadas no processo”, denotou a psicóloga.
Com experiência em Psicologia do Desporto/Performance, Ana Bispo Ramires preocupa-se “em melhorar as condições de aprendizagem e de treino”. “Estamos a falar de um conjunto de competências psicoemocionais, nomeadamente em profissionais como os que nós temos hoje de excelência, que são pessoas que vão adquirindo ao longo da sua carreira, mas que em Portugal, por exemplo, não há um canal formal de aprendizagem destas competências”, lamentou. Nesse sentido, enaltece “a importância desta conferência” no sentido de “dar visibilidade a estas competências que estão um bocadinho no lado mais invisível do percurso das pessoas”.
“É importante as pessoas entenderem é que esta questão das soft skills, que eu costumo chamar carinhosamente critical skills, é aquilo que vai, de facto, diferenciar as pessoas no mercado de trabalho e no desporto, garantidamente na próxima década”, finalizou.
“É necessário ter especialistas que integrem as equipas multidisciplinares”
Guilherme Pereira, pró-reitor para a Avaliação Institucional e Projetos Especiais, gabinete responsável pelo projeto Mentorias UMinho, onde se insere esta conferência, não tem dúvidas de que este “é um tema absolutamente atual e importante nos dias de hoje”. Considerando que há “dois grandes focos: o alto desempenho no contexto desportivo e o alto desempenho nas organizações”. “Os contextos são absolutamente diversos, mas as abordagens são muito semelhantes”, referiu.
Para Guilherme Pereira, “as organizações que frutificam são aquelas que de facto conseguem atingir um alto desempenho em ambientes muito competitivos e, portanto, muito exigentes também”.
A transição dos estudantes para o mercado de trabalho é também “um momento de exigência”. Por isso mesmo, este foi o mote para a Conferência Alumni, integrada no projeto Mentorias, que, este ano, “juntou 55 estudantes finalistas e 55 antigos alunos da Universidade, para trabalhar o desenvolvimento global e integração profissional dos estudantes da Universidade”.
Na sessão esteve também o secretário de Estado do Desporto, Pedro Dias, enalteceu a escolha do tema, de onde resultaram “mensagens muito fortes”. “Exigência máxima, equilíbrio, condições de trabalho e compromisso s são alguns dos aspetos que nos conseguem elevar para outros patamares, seja no desporto ou seja em qualquer outro setor de atividade”, frisou.
Pedro Dias assume que, no desporto, “a componente psicológica é muito importante e é necessário ter especialistas que integrem as equipas multidisciplinares, que ajudem a que todos esses aspetos estejam equilibrados e balanceados para termos desempenhos ótimos”.
