“Aumento de inscritos no superior não se refletiu na melhoria das condições de equidade”

As taxas de abandono das licenciaturas e mestrados integrados aumentaram em todas as áreas científicas durante a pandemia, ao mesmo tempo que caíram as taxas de conclusão dos cursos dentro dos prazos esperados. Esta é uma das conclusões do estudo “As mudanças nas políticas de acesso ao Ensino Superior durante a Covid-19 – Impacto na equidade”, coordenado por Carla Sá, professora na Escola de Economia e Gestão, e por Orlanda Tavares, investigadora do CIEC — Instituto de Educação da Universidade do Minho.

De acordo com a análise, o facto de os exames nacionais terem sido utilizados “exclusivamente como provas de ingresso no ensino superior e as classificações finais do ensino secundário terem sido baseadas, apenas, nas notas internas das escolas” incentivou o “aumento da taxa de conclusão do ensino secundário e o aumento do número de alunos que ingressaram no ensino superior”. No entanto, “as desigualdades tendem a persistir”. “A transição para o ensino superior continuou a ser mais difícil para alunos de cursos profissionais e de contextos socioeconómicos desfavoráveis”, lê-se no documento.

O estudo revela também que “os níveis de qualificação dos pais dos alunos dos cursos profissionais são fatores determinantes para a continuidade das desigualdades”. “No que diz respeito ao sucesso no ensino superior, a pandemia teve um impacto significativo nas taxas de abandono, permanência, mudança de curso e conclusão no tempo esperado. As universidades registaram uma descida da taxa de permanência e um aumento da taxa de mudança de curso, o que sugere maior insatisfação ou flexibilidade nas escolhas académicas”, acrescentam.

O abandono no ensino superior aumentou “em todas as áreas científicas, com uma maior incidência entre estudantes internacionais e aqueles admitidos via concursos especiais”. “Os fatores determinantes para o sucesso académico incluem o género, com as mulheres a apresentar taxas de abandono menores e taxas maiores de permanência e conclusão; a qualificação dos pais, com estudantes cujos pais têm ensino superior a apresentar melhores resultados académicos; e a condição socioeconómica, com bolseiros a revelar menores taxas de abandono”, revela o estudo.

As investigadoras made in UMinho dizem ainda que “o crescimento do número de diplomados do secundário e o aumento de inscritos no superior não se refletiu numa melhoria das condições de equidade do sistema educativo”.

A par disso, o “aumento das taxas de abandono e de não conclusão dentro do prazo esperado entre os novos inscritos indica que as perdas de aprendizagem provocadas pelo ensino remoto de emergência podem continuar a ter impacto ao longo do tempo”.

Assim, o estudo conclui que “embora as medidas adotadas tenham facilitado um maior acesso ao ensino superior, elas não se revelaram suficientes para evitar que alguns grupos sofressem mais do que outros com a pandemia e não conseguiram assegurar o sucesso dos estudantes”.

Estudo deixa  algumas recomendações ao Governo

As coordenadoras apontam ainda algumas recomendações, considerando, desde logo, “imperativa a implementação contínua de apoios financeiros, pedagógicos e sociais, bem como a criação de políticas públicas que combatam as desigualdades desde os níveis educativos mais básicos”. A diversificação das vias de acesso, o investimento na diversificação das modalidades de acesso para as adequar aos diferentes públicos e alargar as vias existentes são algumas das sugestões deixadas ao Governo.

Carla Sá e Orlanda Tavares consideram oportuno “estabelecer mecanismos de monitorização e avaliação contínua das políticas e medidas implementadas, permitindo ajustes rápidos e eficazes em resposta a novas necessidades e desafios” e reforçar o “apoio financeiro e assistência social”, bem como “aumentar e alargar as bolsas de estudo, de modo a garantir que o apoio financeiro possa cobrir não apenas as propinas, mas também os custos de subsistência, como alojamento, alimentação e material escolar”.

A criação de fundos de emergência que possam ser rapidamente usados por estudantes em situações financeiras precárias, particularmente durante períodos críticos é outra ideia realçada, sendo também sugerida a oferta de “apoio adicional em áreas como matemática, português e literacia digital para estudantes que demonstrem necessidade de reforço nestas competências”.

O estudo foi promovido pela Fundação Belmiro de Azevedo.

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Liliana Oliveira
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