“ULS podem facilitar contratação de mais nutricionistas no SNS”

A Bastonária da Ordem dos Nutricionistas afirma que é preciso dobrar o número de nutricionistas no Serviço Nacional de Saúde (SNS) e acredita que o modelo de Unidade Local de Saúde (ULS), a implementar a partir de janeiro de 2024, pode facilitar o processo de contratação em centros de saúde e hospitais públicos onde atualmente trabalham 400 nutricionistas.
Em entrevista ao Campus Verbal, Alexandra Bento diz que o SNS está a aumentar o número destes profissionais, mas é “insuficiente para as necessidades”. “A falta é tão sentida, que mesmo o pequeno aumento que tem havido ano após ano se revela muito insuficiente para as necessidades. É bem necessário dobrar o número e estamos muito esperançados que a nova organização das unidades locais de saúde possa constituir um facilitador da contratação de nutricionistas”, admitiu, criticando ainda o excesso burocrático nos processos de contratação pública.
Portugal tem atualmente cinco mil nutricionistas, mas nem todos têm um lugar no mercado de trabalho.
A bastonária reconhece, no entanto, que são cada vez mais os setores de atividade com nutricionistas, nomeadamente, clubes desportivos e ginásios. Referindo que se trata de uma área “importantíssima em termos de empregabilidade” na atualidade, Alexandra Bento acredita que no futuro poderão ser outras, apelando também por isso à formação constante dos profissionais.
“Ordem dos Nutricionistas conquistou o respeito de todos e deve manter pontes construídas ao longo dos anos”
Desde 2012 que Alexandra Bento ocupa o cargo de Bastonária da Ordem dos Nutricionistas que ajudou a fundar. Após três mandatos consecutivos, está a poucas semanas de se despedir desta responsabilidade por limitação de mandatos e não refere publicamente a sua preferência entre as duas candidatas.
Nos anos mais recentes, a Bastonária da Ordem dos Nutricionistas surgiu com grande regularidade na comunicação social para falar de temas relacionados com a alimentação dos portugueses e reconhece que este tem sido um caminho de conquistas. “Havia muito que fazer, era preciso dar dimensão à nutrição e à profissão de nutricionistas. A ideia era colocar a nutrição na ordem do dia. Uma Ordem defendia melhor os interesses dos nutricionistas e do cidadão, e continuo a achar que assim é. Podemos dizer com segurança que conseguimos colocar este assunto na agenda mediática, em termos políticos. Se muitas das medidas foram tomadas ao longo dos últimos anos em matéria de alimentação e nutrição, a nós, no conjunto, se deve”, resume.
“Já temos feito muito em Portugal. Nalgumas áreas já nos vamos comparando relativamente bem. Mas devemos pensar que a alimentação deve estar em todas as áreas governativas”
No que respeita ao IVA Zero, uma medida recente que a Ordem dos Nutricionistas ajudou a definir, Alexandra Bento lembra que “o preço é uma das determinantes para as escolhas alimentares”, daí que esta deva ser uma preocupação.
Olhando para as escolas e universidades, reconhece que “há muita coisa a falhar” e que dificulta que as crianças e jovens façam melhores escolhas alimentares, mas diz que o mesmo se pode dizer das empresas e até dos espaços públicos que devem ser facilitadores para a população no que respeita à prática desportiva.
A Bastonária da Ordem dos Nutricionistas sublinha que é essencial que a alimentação saudável esteja presente desde o início, nomeadamente em casa, nas creches e infantários, para que os hábitos se instalem.
Nas escolas e universidades o controlo alimentar é mais difícil e a bastonária não assume se a melhor medida passa por regras alimentares no comércio da zona circundante, como acontece nalguns países, onde já se evidencia que se trata de uma boa prática, mas sugere que se estudem as possibilidades.
“Pode ser uma hipótese, mas é preciso estudarmos o nosso modelo. No Porto, foi entendimento fazer um estudo da oferta alimentar em várias zonas da cidade para perceber os sítios onde não há escolhas alimentares saudáveis. Podemos estudar isto para as escolas”, exemplificou.
Nesta mesma entrevista à RUM a bastonária abordou, entre outros assuntos, a responsabilidade das empresas na promoção de hábitos de vida mais saudáveis dos seus trabalhadores.
