Vaudeville Rendez-Vous reflete sobre criações anteriores e o estado do mundo

O quadrilátero urbano vai ser invadido por 11 espetáculos de circo contemporâneo no mês de julho, entre os dias 18 e 22. Famalicão, Guimarães, Braga e Barcelos voltam a acolher o Festival Internacional Vaudeville Rendez-Vous, com a participação de companhias oriundas de França, Espanha, Bélgica, Inglaterra e Brasil, além de portuguesas.
No total há 11 espetáculos, que se dividem por 28 apresentações, incluindo quatro estreias em solo nacional, uma absoluta e duas coproduções. Para a nona edição foram definidos três pilares: repertório, reescrita e estado do mundo.
Na conferência de imprensa de lançamento do evento, esta quarta-feira, no Museu de Alberto Sampaio, em Guimarães, Bruno Martins, membro da direção do Teatro da Didascália, que organiza o evento, explicou que existe a vontade de “revisitar obras que já estiveram programadas no Vaudeville e outras que foram apresentadas em diferentes eventos”. “Ficamos muito surpreendidos por termos percebido que não só a organização está a fazer essa retrospetiva, mas que uma série de artistas tem feito esse exercício de reescrever as próprias obras”, assinala.
Um dos exemplos é a estreia absoluta de ‘Solos a 180º’, da companhia portuguesa ‘Radar 360º’, que tem como mote a estrutura cenográfica de um espetáculo anterior. A nova criação pode ser vista a 20 de julho, às 19h, na Praça de Pontevedra, em Barcelos, e, no dia 22, às 11h, no Jardim do Museu dos Biscainhos, em Braga.
Por outro lado, salienta Bruno Martins, a programação dá a conhecer “uma série de obras de artistas que têm uma grande capacidade de observar o estado do mundo” e vertê-lo “numa arte em que isso não é tão evidente, já que está mais ligada ao movimento do que à palavra”.
‘Runa’, da 104, de Amer Kabbani, artista oriundo da Síria e radicado em Espanha, é uma criação, que, entre ruínas de um mundo em chamas, surge em cena como testemunha de um processo de reconstrução pessoal e coletiva. Também vinda de solo espanhol surge ‘Maña’, da Companhia Manolo Alcántara, em que é explorado o conceito de engenho.
‘En Attendant Le Grand Soir’, dos franceses Le Doux Supplice, num cruzamento entre dança e acrobacia, ‘Smashed 2’, dos ingleses Gandini Juggling – explora as relações tensas entre homens e mulheres -, ‘Truel Destino! Um suor de esperança…’, uma dupla cómica que aborda temas como imigração, doença ou amizade, e ‘Grasshoppers’, que alia a natureza à humanidade, das companhias belgas En Chantier(S) e Cirus Katoen, respetivamente, também integram o festival.
Numa mescla entre projetos mais maduros e outros menos conhecidos, Cláudia Berkeley, que também faz parte da direção do Teatro da Didascália, destaca a inclusão de “quatro companhias emergentes”: ‘Ária’, de Nordestinys (Portugal/Brasil), ‘Passages’, de Alice Rende (França/Brasil), ‘Carmim’, de Coração nas Mãos (Portugal) e ‘Raiz’, de Circo Caótico.
Outra das dimensões do festival é a “oferta formativa”, como destaca a programadora. As oficinas de criação decorrem a 18 e 19 de julho, em Barcelos e Braga, havendo ainda uma masterclass guiada pela companhia francesa Le Doux Supplice, uma mesa redonda sobre escrita e dramaturgia no circo e uma sessão de pitching para programadores e agentes artísticos.
Vereadores assinalam caraterísticas distintivas do evento
As quatro autarquias estiveram representadas na conferência de imprensa. O vereador da Cultura de Famalicão destaca a génese famalicense do evento, localidade onde está sediado o Teatro da Didascália. Pedro Oliveira acrescenta que será o primeiro evento a acontecer no “renovado centro urbano da cidade”, mais especificamente na Praça D. Maria II e na Praça Manuel SottoMaior (Rua Direita), além de passar pelo Parque da Juventude.
Em Barcelos, o Vaudeville Rendez-Vous tem lugar no Jardim da Casa do Rio, Praça de Pontevedra, Largo Dr. José Novais, Parque Municipal, Polidesportivo da Quinta do Aparício e Praceta Francisco Sá Carneiro. A vereadora da Cultura, Elisa Braga, salienta que o festival “preenche uma lacuna” no que diz respeito à programação de novo circo, destacando os temas “altamente fraturantes da sociedade” explorados no festival.
O Largo do Pópulo, o Jardim do Museu dos Biscainhos e a Praça Municipal são os palcos improvisados em solo bracarense. A vereadora com o pelouro da Gestão e Conservação de Espaço Público assinala a importância da articulação entre os quatro municípios como forma de “desenvolvimento da arte”. Olga Pereira sublinha, por outro lado, o facto de “o público ser convidado a tirar partido do património cultural de cada território”.
Em Guimarães, além do Jardim do Museu de Alberto Sampaio, o evento entra em contacto com o Largo Condessa do Juncal, a Praça de Pedra, o pátio do Paço dos Duques de Bragança e a Plataforma das Artes e da Criatividade. O vereador da Cultura, Paulo Lopes Silva, considera que “os quatro municípios juntos são o mais dinâmico polo cultural do país” e desafia a organização para que na próxima edição, a décima, a programação se centra numa “cultura de neutralidade climática e sustentável”.
