Clictour. Alterações climáticas podem originar quebras de 19% na silvicultura

As alterações climáticas acompanhadas de grandes incêndios podem originar quebras de 19% em setores como da silvicultura. Esta é uma das conclusões do projeto “Clictour – Turismo resiliente às alterações climáticas em áreas protegidas do Norte de Portugal”.
Os investigadores da Universidade do Minho utilizaram como referência o ano de 2017, marcado pelos grandes incêndios de Pedrogão, visto que os impactos ao nível das infraestruturas, silvicultura e agricultura foram avaliados ao nível nacional. Em análise, no projeto, estiveram os parques da Peneda-Gerês, Alvão e Litoral Norte.
De acordo com a investigadora do Núcleo de Investigação e Políticas Económicas (NIPE), Rita Sousa, o impacto no PIB poderá chegar a 1,57%. “Há alguns setores que chegam mesmo a quedas de 0,5%. Depois tudo o que vem atrás disso, todo o consumo e produção que decresce. Por exemplo, nesse evento de 2017, num cenário de referência, na nossa estimativa que é aplicada a todos os setores económicos, acaba por repetir quase uma queda de 19% no valor acrescentado a este setor, o setor da silvicultura”, explica.
A equipa criou quatro cenários. No mais gravoso é quantificada uma perda de produtividade e de valor acrescentado bruto na ordem dos 20%, na silvicultura.
No caso do Parque do Litoral Norte, em Esposende, os investigadores preveem um recuo na costa de 28 metros até 2050. No que toca à temperatura, as estimativas apontam para um aumento de até 1,5 graus até 2100. Quanto à precipitação, é provável que exista uma concentração em determinadas alturas do ano, mas depois no resto do ano torna-se mais escassa. “Esta combinação aumenta a probabilidade de incêndios florestais”, frisa.
Durante o trabalho, a equipa concluiu que a implementação de taxas turísticas nestes territórios, apesar do impacto do turismo para as autarquias, a título de exemplo nos resíduos, não tem demonstrado relevância ao nível de receita.
Para conseguir atrasar ou diminuir estes efeitos das alterações climáticas, a investigadora adianta que é necessário ocorrer uma “transformação social através da educação. Depois, um desenvolvimento socioeconómico sustentável, por forma a estas regiões conseguirem ter o valor de rendimento até per capita mais elevado do que têm agora. E por fim, uma governança para a sustentabilidade, tendo em conta toda esta logística que existe entre as câmaras, as populações locais, os turistas e as entidades de cogestão dos parques, tudo isto precisa de ser articulado”, elenca.
A sessão de apresentação dos resultados do projeto “Clictour”, financiado em 500 mil euros pelo Programa Norte 2020, contou com a presença de Marco Sousa, do Turismo Porto e Norte de Portugal, Paulo Lopes, do Portugal Green Walks e da diretora regional do ICNF, Sandra Sarmento.
