Pessoas que sentem raiva de forma mais intensa têm maior predisposição para depressão

Pessoas que sentem raiva de forma mais intensa têm um risco superior de desenvolver problemas como depressão. O alerta é da investigadora da Escola de Psicologia da Universidade do Minho, Liliana Capitão, que é convidada desta semana do UMinho I&D.
Recentemente, a investigadora foi galardoada com uma Bolsa do Programa de Investigação Científica da Fundação Bial 2022 pelo trabalho “Mecanismos cognitivos da raiva e a sua ligação à emoção”.
À RUM, Liliana Capitão, sublinha que pessoas que têm maior facilidade em sentir raiva podem estar mais suscetíveis a desenvolver problemas do foro psiquiátrico “porque têm dificuldade em controlar a emoção na interação com os outros. Podem também ter uma maior propensão para pensar e ruminar-se acerca de situações que aconteceram no passado”.
Nos próximos meses, a investigadora do Centro de Investigação em Psicologia vai iniciar estudos comportamentais com recurso a imagiologia com cerca de 60 participantes, de modo a compreender e avaliar esta emoção que, de acordo com Liliana Capitão, é pouco estudada.
“Nós avaliamos a deteção do estímulo da raiva através de expressões faciais a nível consciente e inconsciente. Apresentamos uma imagem em cada olho, separadamente, e conseguimos manipular as imagens de forma
que sejam invisíveis no início e que depois apareçam na consciência da pessoa. O tempo que demora a aparecer na consciência da pessoa vai variar. Aquilo que nós verificamos com alguns dados preliminares é que de facto existe uma maior tendência para detetar a raiva em comparação com o medo está associada depois a uma maior experiência subjetiva desta emoção”, explica.
Em paralelo, a investigadora vai tentar, nos próximos seis anos, perceber quais os efeitos dos antidepressivos no cérebro de adolescentes. Apesar de muito utilizados, Liliana Capitão confessa que há poucos estudos sobre os efeitos dos antidepressivos, principalmente, tendo em conta que o cérebro humano está em desenvolvimento até aos 25 anos.
Neste momento, a investigadora adianta que adolescentes que tomaram uma única vez “fluoxetina” revelaram uma ativação cerebral da amígdala reduzida em relação à emoção da raiva e aumentada em resposta a estímulos de felicidade. “O que nós concluímos é que de facto este antidepressivo tem efeitos muito cedo a nível cognitivo que poderão também reduzir este enviesamento negativo que nós sabemos que é muito característico da depressão. Neste projeto mais alargado nós vamos tentar predizer, usando esta abordagem de medicina personalizada, tentar prever quem é que vai responder ou não ao medicamento”, refere.
