“Aumentamos os recursos e o financiamento na saúde, mas não aumentamos a produção”

Os administradores dos hospitais do Quadrilátero Urbano destacam a importância da criação de Unidades Locais de Saúde (ULS) para os profissionais e utentes. No âmbito do Dia Mundial da Saúde, que se assinala na sexta-feira, o Museu Pio XII, em Braga, acolheu, esta segunda-feira, o debate ‘Desafios e Soluções para a Saúde em Portugal’, que reuniu os responsáveis das unidades hospitalares.
À exceção do Hospital de Barcelos, Braga, Guimarães e Famalicão estão atualmente a elaborar os planos de negócios das futuras Unidades Locais de Saúde.
Administrador do Hospital de Braga sublinha vantagens na articulação entre cuidados de saúde primários e hospitalares
O presidente do conselho de administração do Hospital de Braga, João Porfírio de Oliveira, sublinha as vantagens da articulação entre os cuidados de saúde primários e hospitalares, nomeadamente a de “reduzir a diferença e a fronteira entre esses cuidados, através de uma gestão mais centrada, organizada e direcionada para o utente”, no entanto, coloca algumas reticências.
“A verdade é que vemos que uma ULS pode ter, e não quer dizer que todas tenham, um diretor clínico para os cuidados de saúde primários, um diretor clínico para os cuidados de saúde hospitalares e, só por si, levem a dar a entender que vamos manter as coisas dentro de uma única estrutura, mas mantê-las separadas”, refere, acrescentando que “esse é, efetivamente, um receio que todos temos, a gestão unificada, mas vamos ter que lidar com os dois pilares de forma diferente. A verdade também é que, hoje, estamos a fazer este plano de negócio, mas com o pressuposto de que a própria organização das ULS vai ser revista”.
“Têm sido feitos remendos na área da saude”, diz Administrador do Hospital de Guimarães
Já o presidente do conselho de administração do Hospital de Guimarães, Henrique Capela, aponta que, apesar do investimento anual no setor da saúde ser elevado, os problemas permanecem, criticando a gestão dos recursos. “Nós estamos a gastar demasiado no setor da saúde”, começa por dizer, indicando que “só do Orçamento do Estado, estamos a gastar qualquer coisa como 15,6 mil milhões de euros por ano”.
Segundo Henrique Capela, “na saúde têm sido feitos remendos”. “Não há muita reforma estrutural desde 2002, que conheça. Desde 2015 até agora aumentamos os recursos na saúde, de 115 mil para 150 mil, ou seja, aumentamos em 35 mil profissionais, aumentamos em termos de fundos de financiamento, em 2015, andava na ordem dos 10 mil milhões, passamos para 15,6 mil milhões”, destaca, questionando o real impacto desde números no setor.
O administrador diz que “os recursos aumentaram, mas não a produção”. “Se formos aos indicadores da sensibilidade, nomeadamente ver os tempos médios de resposta, quer das cirurgias, quer das consultas, ou ao indicador de cidadãos sem médico de família, temos sensivelmente os mesmos indicadores que tínhamos em 2015, quando gastámos 10 mil milhões”, frisa, sublinhando que é necessário “refletir” sobre esta questão.
“Não podemos continuar a colocar mais dinheiro na saúde de qualquer forma. Provavelmente, estaremos a gastar mal. Gastar mais não significa gastar melhor”, reforça. Além disso, Henrique Capela defende a remuneração por desempenho para captar e fixar os profissionais de saúde.
Envelhecimento da população é um desafio a ter em conta, alerta administrador do Hospital de Famalicão
O presidente do conselho de administração do Hospital de Famalicão, António Barbosa, partilha da mesma opinião, mas destaca o que foi conseguido nos últimos anos no Serviço Nacional de Saúde (SNS).
“Temos um SNS competente”, considera. Na sua opinião, “o SNS foi uma grande conquista da nossa democracia e é um fator de coesão social importantíssimo que dá uma resposta certamente com insuficiência, mas dá uma resposta a toda a população”. O responsável considera ainda que o envelhecimento da população portuguesa será um dos “grandes desafios a enfrentar no futuro e exigirá, certamente, que se façam mudanças para poder dar uma resposta a esse problema”.
Utentes devem ter papel mais ativo nas decisões para o SNS, defende administrador do Hospital de Barcelos
Por sua vez, o presidente do conselho de administração do Hospital de Barcelos, Joaquim Barbosa, destaca a importância de fomentar a literacia em saúde. No seu entender, os utentes devem participar nas decisões do setor.
No seu entender, é “essencial a participação do cidadão nas decisões e no próprio papel enquanto utentes”. “Ainda temos o modelo tradicional baseado na ideia de que os utentes não possuem a informação qualificada ao ponto de participarem nas decisões que lhes dizem diretamente a respeito. E esse modelo hoje em dia está completamente ultrapassado”, considera, salientando que “os utentes têm de ser chamados para a discussão e participar nas decisões”.
