Autarca de Famalicão alerta ministro para injustiça com estruturas artísticas do concelho

O presidente da Câmara de Vila Nova de Famalicão, Mário Passos, não encontra justificação para o corte no apoio atribuído pela Direção-Geral das Artes à plataforma “Sobre o palco”, que reúne 18 estruturas artísticas do concelho.

Dos 985 mil euros que as entidades contavam receber, o apoio do Governo, em 2023, não vai além dos 400 mil euros. Face às dificuldades, a autarquia vai atribuir meio milhão de euros a estas companhias.

O município de Famalicão tem aumentado gradualmente a verba disponibilizada às estruturas artísticas do concelho, passando de 418 mil para os 500 mil e, este ano, 528 mil euros.

O aumento, justifica o autarca, permite que “a cultura erudita possa ser cada vez mais uma realidade em Famalicão”, completando, assim, o apoio municipal dado à cultura popular, à Casa das Artes e Teatro Narciso Ferreira, bem como às associações amadoras do concelho. “A dimensão cultural em Famalicão é muito significativa e talvez seja daquelas que representa mais, comparativamente a outros municípios”, destacou Mário Passos.

O ministério da Cultura, diz o autarca, não tem acompanhado este investimento e reduziu até “em cerca de 60%” o investimento atribuído a estas entidades. “Não se percebe o que motiva esta redução, parece que aqueles que mais trabalham são penalizados, porque Famalicão é um exemplo e uma referência a nível nacional”, lamentou.

Mário Passos diz estar “muito disponível” para manifestar o desagrado e preocupação com as consequências desta redução e apela ao ministro Pedro Adão e Silva que “reveja esta situação de injustiça que criou em Famalicão”.

Redução do apoio está a pôr em causa continuidade das estruturas artísticas


No mais recente Programa de Apoio Sustentado da Direção-Geral das Artes para o biénio 2023-2024 e quadriénio 2023-2026, das 18 estruturas artísticas, a Companhia de Música Teatral manteve o apoio de 120 mil euros anuais e o Instituto Nacional de Artes do Circo recebe pela primeira vez 240 mil euros, mas Teatro da Didascália, O Cão Danado e Fértil – Associação Cultural deixaram de ter financiamento. No anterior Programa, a Cão Danado recebeu 258 mil euros, o Teatro da Didascália 362,5 mil euros e a Fértil foi apoiada em 169 mil euros. Além disso, este ano, quatro entidades não obtiveram a aprovação das candidaturas.

Sara Barbosa, da Cão Danado, diz que o “início do ano foi catastrófico”. “Valeu-nos, felizmente, toda uma estrutura que foi sendo criada ao longo dos anos e o facto de o município e parceiros não falharem os seus compromissos, para que a estrutura não desapareça”, afirmou a responsável.

Na Cão Danado, “a falta de financiamento que a DGArtes tinha proposto seria necessário para o desenvolvimento do trabalho”. “Neste momento, toda uma equipa que de repente está no desemprego e limitamos muito o número de criações”, acrescentou.

O Teatro da Didascália não teve que cancelar nenhuma criação, mas “houve uma necessidade de reescrever e de adaptação dos projetos”. “Fizemos novas candidaturas e estamos à espera desses resultados para perceber o real impacto da falta de financiamento”, disse Cláudia Berkeley.

Resiliência tem sido a palavra de ordem para estas companhias que se viram forçadas a adaptar, “reduzir equipa e custos”. “Para já, não queremos parar, no entanto não deixa de ser uma hipótese”, acrescentou Sara Barbosa.

Rui Leitão, da Fértil, sente que o projeto “está novamente a prazo”. “Não sabemos qual é que será o fim, mas não temos uma visão, como tínhamos há 2 ou 3 anos, de uma continuidade muito longa”, explicou. A estrutura fixa desta companhia contava com quatro pessoas, mas o corte nos apoios obrigou a reduzir a equipa para metade. “Estamos com os projetos pontuais em concurso, a ver se algum deles chega, para continuar a fazer face às despesas”, adiantou o responsável. Segundo Rui Leitão, quando a companhia recebeu a informação do corte no apoio por parte da DGArtes o prazo até fechar a porta era abril. “Criaram-se uma série de outros compromissos que estavam apalavrados até ao final do ano, nomeadamente uma criação com a Fundação Cupertino de Miranda, que nos manteve um pouco de pé, e vamos aguentar pelo menos até dezembro”, disse.


Em 2023, de um total previsto de 920.900 euros angariado pelas 18 companhias, cerca de 57% é assegurado pela autarquia, sendo o restante apoio financeiro proveniente de parceiros como Direção-Geral das Artes, ou Fundação Calouste Gulbenkian. 

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Liliana Oliveira
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