Pedidos de ajuda alimentar em Braga estão a aumentar. Só o Banco Alimentar recebeu mais 24

Os pedidos de ajuda alimentar no concelho de Braga estão a aumentar. A RUM conversou com as responsáveis do Banco Alimentar Contra a Fome e do Virar a Página que garantem que as solicitações estão a duplicar. Os pedidos de ajuda chegam da classe média, cada vez mais pressionada, e dos imigrantes recém-chegados à cidade dos arcebispos. As responsáveis sublinham que não são apenas desempregados que procuram formas de garantir a sua alimentação e dos filhos, mas também pessoas que devido, a título de exemplo, das rendas elevadas praticadas, são obrigados a escolher entre um teto ou comida na mesa.
No último ano, Portugal passou a ter mais de 250 mil pessoas em risco de pobreza. Segundo dados da Pordata avançados a 17 de outubro, o risco de pobreza e exclusão social aumentou 12,5% em 2020 comparativamente a 2019. Trata-se da primeira subida desde 2014 o que coloca o país mais longe de atingir até 2030 a meta de menos 765 mil pobres.
No panorama europeu, em comparação com os 26 estados membros da União Europeia, Portugal ocupa o 8º lugar no indicador referente a população em risco de pobreza ou exclusão social, 2º em termos de pessoas a viver em alojamentos com más condições (25%) e foi 5º no que toca a mais população incapaz de aquecer convenientemente a habitação (16%). De frisar que seis em cada dez pessoas com rendimentos abaixo do limiar da pobreza não conseguem fazer face a uma despesa inesperada, o que coloca o país em 13.º lugar na União Europeia.
Banco Alimentar de Braga recebeu mais 24 pedidos de ajuda só no último mês.
Só este mês, 24 famílias pediram apoio ao Banco Alimentar de Braga, segundo a responsável Pilar Barbosa. Quando são analisados os números de pedimos através da plataforma ´Rede de Emergência`, criada durante a pandemia de covid-19, a situação é ainda mais alarmante com 7.400 pedidos, sendo que neste universo estão incluídas cerca de 2.500 crianças.
Atualmente, o Banco Alimentar de Braga distribui 250 toneladas de alimentos por mês a 70 mil pessoas com dificuldades no distrito.
A comunidade brasileira assim como a classe média no geral têm apresentado mais dificuldades em recomporem-se dos constantes choques desde a pandemia.
Caso a sociedade civil não se mobilize na campanha prevista para o final de novembro, Pilar Barbosa confessa que o “Banco Alimentar não poderá fazer tudo”. Atum, azeite, leite e salsichas são os produtos mais procurados.
Questionada pela RUM sobre como estão a fazer face aos aumentos da eletricidade, a responsável explica que graças aos apoios estão a conseguir fazer face aos aumentos. Contudo, caso esses apoios cessem, poderá ser necessário desligar as arcas frigorificas e deixar de angariar produtos frescos.
Virar a Página serve diariamente 254 refeições a 82 famílias.
Semanalmente chegam, em média, dois novos pedidos de auxílio ao Virar a Página. Ora, de acordo com a responsável Helena Pina Vaz, estes números têm vindo a duplicar. As rendas elevadas praticadas no concelho têm atirado várias famílias para situações delicadas, sendo que para não ficarem sem teto acabam por pagar os valores inflacionados pedidos e no final do mês ficam sem margem de manobra. “Chegam pedidos de leite e bolachas para dar aos filhos ao jantar”, revela.
A Braga continuam a chegar várias famílias ucranianas que também contam com o apoio do Virar a Página. Recentemente em colaboração com assistentes sociais da região foi feita uma ronda para “encaixar” algumas destas pessoas que ainda não conquistaram a sua ´independência alimentar` em respostas protocoladas com a Segurança Social, o que não é o caso do Virar a Página. Esta resposta de primeira linha fica assim mais disponível para acompanhar e receber novos pedidos de ajuda.
No que toca a voluntários, Helena Pina Vaz refere que “nunca são demais”. O sábado é o dia mais complicado, visto que são preparadas refeições para o dia e domingo. Há duas semanas, apareceram apenas duas pessoas, numa primeira fase, o que atrasou todo o processo. Com os feriados de novembro e dezembro assim como o aproximar das festas de Natal e Ano Novo, Helena Pina Vaz teme uma redução do número de voluntários.
O Virar a Página é um dos projetos apoiados pelo Banco Alimentar de Braga. Em situações de falta de stock de um produto, o Virar a Página recorre às suas redes sociais para lançar uma petição pública.
