Redes sociais são motor importante na disseminação da extrema direita

As redes sociais são um motor importante para a disseminação da extrema direita. Esta é uma das conclusões defendidas no trabalho “A Nova Direita no século XXI: identitária, nacionalista e cristã”, da investigadora do Centro de Ética, Política e Sociedade da Escola de Letras, Artes e Ciências Humanas da Universidade do Minho, Patrícia Fernandes, vencedora do Prémio Res Pública 2021.
Em entrevista ao UMinho I&D, a convidada classifica como errada a estratégia utilizada por diversos governos mundiais no sentido de “silenciar” as preocupações de cariz religioso ou nacionalista. Ora, o crescimento das redes sociais, na ótica da investigadora, veio dar força a estas reivindicações em fóruns ou locais mais negros da internet. “As redes sociais permitem que as pessoas digam o que pensam e acabem por perceber que não estão sozinhos”, ou seja, cria-se um fator de identidade, de acordo com a especialista.
“Castigar essas pessoas verbalmente ao designá-las como xenófobas ou ignorantes tende apenas a aumentar o movimento”, conclui Patrícia Fernandes que defende a auscultação destes cidadãos e suas preocupações em detrimento do silenciamento.
Questionada sobre a sinceridade da utilização dos valores cristão, a investigadora refere que em alguns casos “haverá uma adesão sincera”, porém, quando em análise estão líderes como Donald Trump ou Jair Bolsonaro esta utilização pode ser “mais instrumental para conseguir segurar um eleitorado mais conservador”.
Um dos fenómenos que tem gerado controvérsia prende-se com o facto de minorias étnicas, que por vezes são atacadas por estas forças políticas, acabarem por votar em partidos de extrema direita. Uma realidade observada nas últimas décadas nos Países Baixos e em França. Patrícia Fernandes garante que a explicação é simples. “As comunidades LGBTQI+, por exemplo, acabam por ser as mais fragilizadas perante a comunidade muçulmana. Como defesa consideram que mais vale votar em alguém que se apresenta a defender os valores civilizacionais e progressistas da Europa do que votar num partido que tende a abrir muito as portas para uma comunidade que não aceita a sua identidade ou agendas como do aborto”, explica.
