“Momento da tomada de posse é o mais indicado para colocar em cima da mesa todos cenários possíveis”

Para José Palmeira, docente de Ciência Política na UMinho, Marcelo Rebelo de Sousa poderá ter um papel de fiscalização mais assertivo do que o habitual, dada a maioria absoluta do PS no Parlamento.

“O momento da tomada de posse é o mais indicado para colocar em cima da mesa tudo o que são cenários possíveis”. A opinião é de José Palmeira, professor de Ciência Política, na Universidade do Minho. A ameaça de António Costa não cumprir o mandato, que iniciou esta semana, até ao fim, ou seja, em 2026, levou o Presidente da República a deixar um aviso ao primeiro-ministro: ou cumpre o mandato ou há eleições antecipadas. 

Costa nunca assumiu publicamente a sua ambição em chegar a um cargo europeu, mas, de acordo com José Palmeira, foi dando alguns sinais nesse sentido. “O facto de ter levado para a presidência do Sonselho de Ministros a secretaria de Estado dos Assuntos Europeus, que esteve sempre no ministério dos Negócios Estrangeiros, poderá sinalizar isso”, apontou o docente. Além disso, foram convidados a integrar o Governo muitos dos nomes que são apontados como possíveis sucessores de António Costa, na liderança do Partido Socialista: Mariana Vieira da Silva, Ana Mendes Godinho e Pedro Nuno Santos permanecem nos eleitos de Costa, a quem se juntam agora Fernando Medina, José Luís Carneiro e Ana Catarina Mendes. Para José Palmeira este “poderá ser um sinal de que quereria que o seu sucessor estivesse já no Govenro para não provocar os problemas que provocou a substituição de Durão Barroso em 2004, quando saiu do Governo para a presidente da Comissão Europeia e a sua substituição por Pedro Santana Lopes, número dois do PSD na altura, provocou vários tumultos”. “Mais tarde, Jorge Sampaio, na altura Presidente da República, dissolveu o Parlamento e convocou eleições e isso levou ao poder o PS, liderado por José Sócrates”, acrescentou. 

José Palmeira entende que Marcelo Rebelo de Sousa tenha deixado, desde o início, o alerta para as eventuais consequências internas. “Não é um problema constitucional, porque o primeiro-ministro pode ser substituído sem que haja necessidade de haver eleições, mas há uma leitura política do Presidente de que, dadas as circunstâncias em que se deu esta eleição e dada a maioria absoluta que o PS teve, ele acha que esta eleição é indissociável da figura do primeiro-ministro e pré-anuncia que, caso esse cenário se coloque, tomará a iniciativa de dissolver o Parlamento”, explicou.

Quanto às escolhas de António Costa para o XXIII Governo Constitucional, o investigador admite como natural a opção por um “perfil fundamentalmente político”, considerando “perfeitamente normal as escolhas feitas”.

No entanto, merece também a apreciação positiva o facto de integrarem o Governo pessoas da sociedade civil, como Elvira Fortunato, ministra da Ciências, Tecnologia e Ensino Superior, “que tem um perfil particularmente técnico e é alguém que se distingue no domínio da investigação”, não tendo “um perfil acentuadamente político”. 


Os partidos da oposição terão um “papel mais limitado”, dada a maioria absoluta do PS na Assembleia da República, que dita, à partida, a aprovação das propostas socialistas. Nesse sentido, Palmeira evidencia o papel do Chefe de Estado nesta Legislatura. “O Presidente da República poderá ter um papel de fiscalização mais assertivo do que aquilo que acontece normalmente”, apontou. 

O docente considera ainda que a oposição “terá sempre um papel relevante, porque deve sinalizar as alternativas que exitem ao poder e, como sabemos, a qualquer momento poderá haver um processo eleitoral”.

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Liliana Oliveira
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Abel Duarte
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